05/04/2012

Por que é que tenho um pai tão chato?

No outro dia fui jantar com o meu pai. Como não podia deixar de ser, fez-me perguntas sobre o curso, ou melhor, quis saber que cadeiras estou a ter agora. E, sempre que eu dizia o nome de alguma, perguntava-me se estava a gostar da tal cadeira. Acontece que, este semestre, todas as minhas cadeiras são uma seca, e os colegas com quem convivo mais concordam comigo. A única que tem a sua piada é genética, e é a cadeira do segundo ano que estou a fazer no lugar de uma que tive equivalência. O resto é uma treta. E ele sempre a perguntar coisas do tipo "Então se não gostas, o que estás lá a fazer?". E eu já farta. Tipo, não tenho culpa de não gostar das disciplinas. São uma seca, mas hei-de fazê-las, tal como na escola; também eram chatas, tirando algumas que acabei por gostar bastante, e não foi por isso que não as conclui. E quando lhe falei na cadeira opcional?! Credo, quase que teve um ataque.
Vou explicar-vos o que é isto da cadeira opcional. Basicamente, temos que fazer uma cadeira de qualquer faculdade da U.P., desde que tenha quatro créditos ou mais. Ou seja, é uma bosta, uma coisa que só está no plano de estudos para encher. Ora, a U.P. tem três pólos, e eu preferi escolher uma cadeira de uma faculdade que ficasse no meu pólo, porque, caso contrário, teria que ir para longe, e, se tivesse uma aula antes ou depois, tinha que ir de um lado para o outro em pouco tempo. Por isso, restringi-me às do meu pólo. Medicinas, engenharias e economias foi para esquecer. Eu e uma amiga pensámos em desporto. O problema foi que, no dia das inscrições, muitos dos nossos colegas tiveram a mesma ideia. Quando lá chegámos, a secretaria ainda estava fechada e eles já lá estavam sentados à porta, como se tivessem passado a noite à porta de uma sala de espectáculos para ficarem na primeira fila de um concerto. Resultado: as vagas esgotaram logo. E eu e essa minha amiga tivemos que ir para a faculdade do pólo que restava. Qual? A de psicologia. Vimos o plano de estudos e tudo nos pareceu uma seca, tirando uma que nos despertou algum interesse. Mas, quando nos fomos inscrever, as vagas para essa cadeira já estavam preenchidas e tivemos que escolher outra meio "às cegas". Acontece que essa cadeira que escolhemos é uma valente bosta.
O meu pai praticamente passou-se quando lhe falei nisso e começou a dizer que eu devia ter aproveitado para escolher uma coisa que gostasse, mesmo que ficasse longe para caraças e desse trabalho; e eu dizia-lhe que esta treta da cadeira opcional não servia para nada e que eu só quis uma coisa que me facilitasse a vida, porque é uma coisa que não me vai ser útil na minha formação - se bem que aquela bosta não me anda a facilitar lá muito a vida. Não tem exame, mas tem dois trabalhos, um individual e um em grupo. As nossas colegas de grupo parecem estar a cagar-se para aquilo e o trabalho individual mete-me a cabeça tonta. Acho que até o prof já me quer ver pelas costas desde que lhe disse que ainda não tinha percebido bem quais os objectivos do trabalho individual e que não sabia a diferença entre um estudo e um projecto de intervenção. Ele nem se deu ao trabalho de me explicar nada. Tipo, wtf?! Aquela nem é a minha área, como é que eu devo saber? E o trabalho dele não é ensinar/explicar? Não percebo que raio se passou com o homem. Às vezes fico inquieta para desistir desta bosta e fazer outra cadeira no próximo semestre. A tal minha amiga também parece que quer, mas depois diz "Não, não vamos desistir, vamos conseguir fazer isto". E eu fico tipo "Pffff, não quero..." e enterro a cabeça na mesa.
Parece que, para ele, tudo o que faço é errado, e é quase impossível falar com ele por causa disso, porque ele é que tem sempre razão, e, mesmo que eu discorde e argumente e discuta, ele fala como se eu não tivesse dito nada ou quase nada, continua a insistir nas suas ideias que ele considera serem as certas. É sempre a mesma coisa; parece que ele me queria ver a saltar de universidade em universidade todos os anos até encontrar a coisa certa, mas parece que não percebe que a coisa certa não existe, pelo menos a minha coisa certa. Já expliquei aqui como encaro a vida adulta, e tentei explicar isso, mas ele ou não compreende, ou não ouve. Ele é daquelas pessoas que gosta tanto do seu trabalho que é capaz de não almoçar para ficar a trabalhar ou ficar a trabalhar até às tantas da noite. E nem se importa. Mas importo-me eu. Eu sei que não sou capaz de fazer isso, mesmo que seja uma coisa que goste muito. A minha irmã ficou do lado dele, claro; para eles, parece que tudo é tão fácil de se fazer. Ela é a versão feminina dele, completamente, mas eu não sou. Nem tenho nada a ver com ele, e ele mal me conhece, o que também me chateia. Acho que as únicas coisas que ele me transmitiu foram a miopia, a cor do cabelo e a teimosia. Ah, e o gosto pela natação. Por isso, parece que fica sempre passado quando discordo das suas ideias, o que acontece muitas vezes. Às vezes tira-me mesmo do sério, fogo...

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