20/09/2016

Sobre o estágio

Voltou a correr bem. Depois daquela fase em que me senti triste e desmotivada, ansiosa para que aquilo acabasse, voltou a correr bem assim de repente. Não sei porquê, mas ainda bem que assim foi. Acho que é o facto de ter mais coisas ou coisas novas para fazer que me dá outro ânimo - porque não suporto estar num suposto local de trabalho parada, a sentir-me uma inútil. Para além disso, o meu relatório para a Ordem está pronto e entregue - foi o relatório mais rápido que já fiz na vida -, e graças a ele tive maior noção daquilo que fiz ao longo destes meses. Notei que fiz alguma coisa, que contribuí com alguma coisa. Mais do que o próprio relatório, foi o parecer da minha orientadora que mais me ajudou a ver precisamente isso. Não estava nada à espera de um parecer daquele género e confesso que fiquei babada, com a sensação de dever cumprido - embora ainda haja muito trabalho pela frente - e de que, afinal, valho alguma coisa e fui capaz de alguma coisa.
Penso que foi por aí que as coisas voltaram a melhorar. Deixei de me arrastar para o trabalho; deixei de achar que ir para lá todos os dias era um enorme sacrifício. Até os dias e as semanas têm passado a voar. Já estou tão acostumada àquele ambiente e àquelas pessoas que vai ser tão estranho ir-me embora dali. Especialmente por causa das pessoas. Afinal, se não tivessem sido tão simpáticas, tão prestáveis e brincalhonas desde o início, a coisa não teria corrido tão bem. Fizeram sempre os possíveis para que me sentisse integrada, e isso ajudou bastante.
O meu contrato como estagiária termina no final deste mês. Há a possibilidade de ser prolongado por mais nove meses, mas nunca tive grande esperança que tal acontecesse. Tive sempre a sensação, desde o início do estágio, que só estaria ali por nove meses e que não haveria mais do que isso. Olhando para trás, acho que foram os nove meses mais rápidos da minha vida.
Sempre tive essa sensação, porque era isso que me davam a entender. Nos últimos dias, tem surgido, inesperadamente, mais trabalho para mim, da minha área, pelo que pode, até, haver uma pequena hipótese de prolongarem o meu contrato. Mas tenho quase a certeza de que vou ficar por aqui, e acho que vou manter esse pensamento para não me (des)iludir. Quase toda a gente é da opinião de que devia continuar na empresa e alguns até têm um feeling de que tal pode acontecer - não só pessoal da empresa, como também da minha família -, mas eu duvido muito. Até porque tal decisão tem que passar pelo director da dita cuja. É ele quem dá a palavra final, mesmo que a opinião geral seja manterem-me lá. E é por isso que não tenho grande esperança, porque parece que, desde o início, só precisariam de mim por nove meses e depois acabava. Como se o meu trabalho pudesse ser feito por outra pessoa qualquer, quando isso não é verdade. Ou, então, acabarão por arranjar outra estagiária para o meu lugar. Nunca se sabe.
Houve uma altura em que isso me preocupou. O sair de lá no final de Setembro e ficar desamparada de novo. Depois, houve a altura em que não queria saber, que até preferia ir-me embora no final de Setembro porque estava fartinha daquilo tudo. Agora, para ser sincera, estou preparada para o que vier. Se quiserem que continue lá, não vou dizer que não; acho que seria uma estupidez recusar trabalho, sobretudo quando não tenho um plano B. Se não quiserem, está tudo bem na mesma. Costumava dizer que ia deprimir em casa e desesperar à procura de trabalho, ao que os meus colegas diziam que ao menos podia descansar a cabeça por uns tempos e ficar como que de férias. Dito assim, até não é uma má ideia, uma vez que nem tive férias durante este Verão. E aproveitarei para me focar no exame da Ordem. E, depois disso, logo verei o que fazer. Já não temo nada. As coisas acontecerão.
O certo é que é já esta semana que vou saber "o meu destino na empresa" e já ando a ficar ansiosa.
Seja como for, e como não podia deixar de ser, aprendi muito e cresci muito neste estágio. Foi numa área da nutrição tão diferente, tão fora da minha zona de conforto que, muitas vezes, receei não estar à altura das tarefas. Mas fui-me surpreendendo a mim mesma e superando obstáculos, para, agora, sentir-me muito mais confiante e tornar-me noutra pessoa que não a miúda assustada que entrou na empresa nos primeiros dias. Levo coisas boas daqui, sim. E a melhor - que não deixa de ser a mais inesperada também - é uma amizade. Que eu tenho a certeza que durará muito tempo.

18/09/2016

Nightwish - Endless Forms Most Beautiful Tour

Fotografia retirada do Facebook oficial da banda (e editada por mim).

Nightwish é uma banda que ocupa um lugar especial no meu coração. É uma das minhas bandas favoritas, que me acompanha desde os dezasseis anos, que me fez apreciar a música de outra forma e a primeira banda de metal que ouvi. Antes de ouvir esta banda, eu - bem como muita gente que não sabe do assunto e que pode nem querer saber - tinha aquela ideia pré-concebida de que o metal era apenas berros e barulho, algo que nem sequer se podia considerar música, e que era preciso ser-se muito tolo ou estar-se super deprimido e mal com a vida para se conseguir ouvir tal coisa. Mas ouvir Nightwish veio mudar completamente esta minha forma de ver as coisas, principalmente porque me apresentou um género musical que eu nem sabia que existia: metal sinfónico. Metal sem berros, mas com uma bonita voz feminina, com tanto de doce como de poderosa, no seu lugar; metal sem instrumentais pesados, arrastados, deprimentes e barulhentos; metal com uma orquestra, com sonoridades viradas para o teatral ou o cinematográfico, e com canções que contavam histórias e que me faziam imaginar histórias, não só devido às letras, mas também devido à melodia e aos instrumentos, que criavam um ambiente completamente distinto de tudo o que ouvira até então. É difícil, a meu ver, explicar o quanto se gosta de uma banda, daí que seja difícil, para quem me lê, compreender a adoração e a admiração que tenho por esta banda em concreto. O facto é que é uma das minhas bandas do coração e das melhores que já ouvi. Parece que foi graças a ela que nasceu, em mim, uma grande paixão por música - porque, antes dos meus dezasseis anos, eu mal ouvia música por minha iniciativa; não havia nada de que gostasse realmente. Foi graças a ela que comecei a ouvir outras bandas, outros estilos e que, finalmente, encontrei os meus géneros musicais de eleição e as melhores bandas do mundo - para mim, como é óbvio. Percebi que o metal não é só berros e barulho. Percebi o quanto pode ser bonito. Passei a ver este género musical com um novo olhar, a apreciar alguns dos seus subgéneros e a gostar de explorar este novo lado do mundo da música. E, assim, nasceu a pequena metaleira que hoje vive em mim e que parece que nunca me vai abandonar.
Quando soube que os Nightwish vinham a Portugal, não pensei duas vezes. Não pensei na loucura de comprar um bilhete de avião para poder ir vê-los, nem tão-pouco pensei naquilo que poderiam pensar de mim por estar a fazer isso - que estava a passar-me, que estava a ser doida, que estava a fazer algo um bocado parvo. Muitas pessoas podem não compreender, e nem eu espero que toda a gente compreenda. Porque nem todas sabem o que é adorar uma banda desde os dezasseis anos e esperar quase dez anos para poder vê-la ao vivo. Mesmo que saibam, podem até pensar Mas para quê vê-la ao vivo? Não basta apenas adorá-la e pronto?. Não, não basta. Para mim, não basta. Mais uma vez, não espero que toda a gente compreenda. O certo é que o fiz: comprei um bilhete de avião e fui vê-los. Nunca pensei tornar-me louca a este ponto. Mas devo dizer que foi uma loucura que me fez tão bem. E que acho que são actos loucos como este que fazem a vida valer a pena e que nos proporcionam os melhores momentos de sempre.
O concerto foi absolutamente lindo. Tive medo que fosse arruinado por causa do grupinho de pessoas que estava mesmo ao meu lado - pessoal nos seus trintas ou quarentas que já estava completamente podre antes do concerto começar, a ponto de eu ter levado uma queimadura de cigarro e de ter quase a certeza de levar um banho de cerveja da cabeça aos pés. Mas, felizmente, consegui abstraír-me deste cenário triste e um tanto ou quanto desrespeitoso e aproveitar a noite da melhor forma.
De facto, foi uma das melhores noites da minha vida e um dos melhores concertos que já assisti até então. Em termos visuais, devo dizer que não foi nada por aí além - acho que nada bate o concerto dos Brit Floyd neste aspecto -, mas só o facto de ser a banda que é foi o suficiente. Diverti-me tanto, de uma forma que já estava a precisar há tanto tempo. Esqueci-me de tudo, de todos os problemas e de todas as confusões que já me andavam a massacrar a cabeça há algum tempo. Só me importava aquele momento, aquele ambiente, aquelas músicas que tanto adoro. Saltei, gritei e cantei como nunca. Foi uma noite linda, perfeita, maravilhosa, fantástica e tudo o mais que quiserem chamar, para além de ter sido cheia de surpresas. E as surpresas começaram lá para meio do concerto, com a 7 Days to the Wolves. Uma música que já não ouvia há anos - sim, anos -, que me fez pensar, nos primeiros segundos, em algo do género Mas esta é a música que estou a pensar? Meu Deus, já não ouço isto há tanto tempo! e que me deixou surpreendida comigo mesma por, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda saber o refrão de cor. The Poet and the Pendulum foi outra surpresa; é uma música que adoro e da qual não estava nada à espera; antes de conhecer Nightwish, nunca tinha ouvido uma música tão longa como esta, e foi ela que me fez passar a gostar de músicas assim, longas, com o ritmo a variar ao longo da canção, como se assistíssemos a um filme. Mas, melhor ainda - e este foi o ponto alto do concerto - foi a sequência Stargazers, Sleeping Sun e Ghost Love Score. Fiquei com as expectativas em alta quando a Floor disse algo do género Há uma canção que queremos tocar para vocês...uma canção muito antiga!, e, quando disse que era a Stargazers...bem, eu adoro o instrumental desta música. E, depois de a ouvir assim, ao vivo, naquele ambiente de festa, passei a gostar ainda mais dela. A seguir, quando veio a Sleeping Sun, não pude deixar escapar um grande Oh My God!. Isto por não estar nada, mas mesmo nada à espera dela e por ser uma das minhas músicas favoritas deles. E teve piada porque, uns dias antes, disse a um colega da faculdade - que foi comigo ao concerto - que essa era das poucas músicas cuja letra sabia de cor e que gostava imenso que a tocassem, mas que duvidava muito que o fizessem. E tocaram-na! Mas o melhor ainda estava para vir. Ghost Love Score. A minha música favorita dos Nightwish. Que eu estava mesmo certa de que não iam tocar, por ser também tão longa. Como já tinham tocado a Poet e como eu sabia que a música final seria The Greatest Show On Earth, igualmente longa, já estava a pensar que não iriam tocar três músicas com mais de dez minutos num só concerto. Mas enganei-me. E ainda bem que me enganei! Ouvir os primeiros segundos da minha música favorita fez-me logo dar um berro. Não estava mesmo a acreditar naquilo.
Saí do coliseu completamente partida, como não podia deixar de ser. Senti as pernas a doer tanto, mas isso rapidamente passou quando comecei a andar para a saída. Passou, mas para dar lugar a uma dor descomunal no fundo das costas. Parecia uma aleijada a andar na rua. É o que me acontece sempre. Mas nem por sombras ia ver um concerto destes sentada só para não sentir as dores no final. É uma das minhas bandas favoritas, era um concerto do qual estava à espera há anos e as dores até valem a pena. No momento, só queria deitar-me na cama. Mas, olhando para trás, sim, valeram mesmo a pena. São só umas dorzinhas, afinal. E, para além disso, mesmo andando na rua como uma aleijada, com as costas a doer tanto, a sentir-me cansadíssima e a querer apenas deitar-me e adormecer, sentia o coração tão cheio, a transbordar de alegria. Foram umas duas horas lindas, mágicas, inesquecíveis. Deixaram-me tão feliz e deram-me memórias que vou conservar para sempre e das quais irei lembrar-me com um grande carinho e, como não podia deixar de ser, com uma grande nostalgia. Ter ido dos Açores para Lisboa ver o concerto foi um acto louco, sim. Mas um acto louco que valeu a pena. Porque são destes actos loucos que precisamos de vez em quando.

Setlist:
Shudder Before the Beautiful
Yours Is an Empty Hope
Bless the Child
Storytime
My Walden
Élan
Weak Fantasy
7 Days to the Wolves
The Siren
The Poet and the Pendulum
I Want My Tears Back
Nemo
Stargazers
Sleeping Sun
Ghost Love Score
Last Ride of the Day
The Greatest Show on Earth

13/09/2016

Não, ainda não morri

Não me esqueci que tenho um blog. Mas a vontade de cá vir tem sido mesmo pouca. Para além de andar com imensa coisa em que pensar, este Verão acabou por trazer programas tão apelativos e inesperados que me fizeram ficar longe do computador durante, praticamente, todos os dias - e devo dizer que passar várias horas, no estágio, a olhar para o computador retira-me por completo a vontade de voltar a olhar para ele quando chego a casa. No entanto, às vezes penso em voltar. Em dizer como as coisas estão melhores desde a última publicação que aqui escrevi - a sério, parece que, quem aqui chega, pensa que ainda ando naquela fase meia deprimente quando isso já não é verdade. E, para além disso, penso em vir falar de coisas boas. Por exemplo, sobre o maravilhoso primeiro livro de Patrick Rothfuss que terminei há umas semanas atrás ou sobre o lindo concerto dos Nightwish da semana passada que me deixou de coração cheio. Espero, daqui a uns dias, ter a mesma vontade e a mesma alegria de outrora de vir aqui escrever. Por agora, só queria dizer que não me esqueci deste cantinho e que não o abandonarei tão cedo. Bem, pelo menos não o abandonarei sem uma palavra.