Gosto sempre de entrar num centro comercial e vê-lo todo decorado para o Natal. Fica tão adorável e deixa-me toda contente por chegar à conclusão de que não falta muito para regressar a casa. E regressar pela altura do Natal tem sempre outro sabor. É a altura em que me dá mais vontade de voltar.
No outro dia, enquanto a minha mãe esteve cá, lá fiquei eu toda contente ao ver as decorações natalícias do centro comercial a que fomos. Mas foi algo passageiro, visto que fazer compras de Natal deixa-me sempre esgotada e sem vontade de fazer mais nada a não ser sair dali para fora.
Depois, quando a minha irmã veio ter connosco, voltámos ao centro comercial. Queria ir fazer compras acompanhada por nós, e a minha mãe também queria lá voltar para comprar os últimos presentes. Sabia, por experiência própria, que ir a um centro comercial num sábado à tarde seria um completo suicídio, ainda para mais nesta altura do ano. Mas lá fui - um tanto ou quanto contrariada - porque, o que podia eu fazer?
E, bem, fiquei totalmente cansada e farta. Das pessoas, do barulho, de tudo. Já não é novidade nenhuma para mim isto de me sentir sufocada em lugares repletos de gente e de estar cheia de vontade de fugir. Não aguento; parece que fico com a cabeça a andar à roda.
Mas, para além disto, ter visto toda a gente numa correria louca e desesperada pelos presentes de Natal fez-me perceber o quanto esta época consegue ser..."fútil" talvez não seja a palavra certa... A ver se me faço entender. A época do Natal devia ser de felicidade e de paz de espírito. Não por causa dos presentes - seja da loucura pela procura do presente perfeito, seja da ansiedade ou do desejo por um presente caro em específico -, mas sim pelas coisas simples que nos proporciona. As decorações, as músicas, o conforto de um lar num dia frio, o ter a família reunida. E, bem, para mim, costuma ser, de facto, uma época de felicidade e de paz de espírito. Já há muito que deixei de ligar aos presentes. Ligava quando era criança, em que eram tantos os brinquedos disponíveis, que uma pessoa dava em doida. E em que, como é óbvio, não se tinha a percepção de algo ser caro ou um tanto ou quanto inútil, ou até mesmo a percepção de algo não ser preciso por já se ter algo semelhante. Não havia isso, e só mais tarde comecei a adquirir essa percepção. A perceber, realmente, o que é que importa. A tornar-me contida naquilo que peço, a ponto de, muitas vezes, pensar que não preciso de nada. Sim, passei a pedir coisas pelo Natal apenas por necessidade, não por um desejo fútil e quase incontrolável ou por ser Natal. No meu aniversário, acontece a mesma coisa. Mas, claro, dar um presente "é da praxe". É bom receber um miminho ou um pouquinho de dinheiro, mas, muitas das vezes, o dito miminho é algo que não me fazia a menor falta. Daí que o dinheirinho nunca seja uma má ideia... Apesar de tudo, o que conta é o gesto, se bem que, às vezes, acho uma estupidez ver tanto dinheiro a ser atirado ao ar só porque toda a gente é como que obrigada a oferecer o que quer que seja aos outros.
Parece, no entanto, que muita gente não pensa assim. Parece, tal era a correria pelo centro comercial - que me deu a volta à cabeça e que me deixou completamente saturada de tudo aquilo -, que só querem esbanjar dinheiro porque é Natal, e que o Natal é altura de comprar coisas caras e as maiores futilidades de sempre, e por aí adiante. E parece que ignoram tudo o resto, todo o espírito próprio da época, todas as coisas simples. Talvez não, mas é o que parece.
Quando me perguntam o que quero receber no Natal, há quem fique parvo se digo que não quero nada. Não quero, por não haver nada de que necessite. Não serve de nada inventar um "algo" qualquer só porque é Natal, só porque alguém terá que me dar qualquer coisa. Em termos materiais, não há mesmo nada que ambicione. Contudo, é claro que queria, de facto, alguma coisa. Percorrer o mundo, realizar sonhos, encontrar amigos verdadeiros, ... Coisas que não estão ao alcance de ninguém a não ser ao meu, mas que me deixariam bem mais feliz do que simples objectos. Pena que esse tipo de "prendas" não possa ser embrulhado e oferecido.