Era, contudo, um som agradável de se ouvir. Bonito, mágico e suave. Uma melodia, tocada por algum instrumento que parecia estar demasiado perto de mim. Senti-me como se estivesse num filme e que aquela melodia fizesse parte da sua banda sonora, tocando inesperadamente e em qualquer lugar apenas para embelezar uma cena sem palavras. Subitamente, dei por mim embalada por ela e a sorrir face à sua beleza, sem saber, sequer, se estaria a imaginá-la. Parada junto a uma árvore, olhei em redor, não alarmada, mas simplesmente curiosa em relação a quem estaria a produzi-la e de onde poderia vir. Não via ninguém, e, no ar, não corria a mínima brisa que pudesse transportar o som até mim. No entanto, a canção prosseguia, e, a cada segundo que passava, sentia-me melhor e mais tranquila, como se, de repente, a vida deixasse de ter preocupações.
Por alguma razão, toquei no tronco da árvore que se encontrava junto a mim. Mantive a mão em contacto com aquela armadura robusta e rugosa, como se, do seu interior, brotasse uma força que me atraía. Como se, naquele tronco, fluísse magia. A própria melodia, aliás, trazia magia ao ar a cada nota que era tocada. Fez-me pensar em lugares cujo solo eu tinha pisado e que já não existiam mais, lugares onde se sentia a magia no ar e em tudo o que a vista alcançava. Lugares onde viviam todo o tipo de criaturas em harmonia, onde a magia e os rituais eram praticados livremente e sem medo. Lugares, pessoas e momentos (...) que eu nunca iria esquecer e que preservava com um carinho tal, que muitas vezes desejava, ingenuamente, que aqueles dias simples, risonhos e gloriosos regressassem ao mundo. Que a magia regressasse ao mundo; que regressasse em pleno, dominando-o novamente, como nunca devia ter deixado de fazer.
Tal era a força da árvore e da canção, que me tentou a descobrir o que ali se escondia; a descobrir a origem e o tipo daquela magia, o porquê de ali estar e de se manter em segredo. E, como se fluísse num sentido ascendente e eu fosse capaz de a ver, a energia da árvore fez-me olhar para cima, para os seus próprios ramos e para a sua folhagem, como se, simples e inexplicavelmente, estivesse apenas a seguir a trajectória da sua seiva mágica no seu interior.
Foi então que a vi. A rapariga do autocarro. Confortavelmente encostada ao tronco da árvore, como se estivesse a relaxar numa espreguiçadeira, em vez de num ramo frágil e estreito e a vários metros do solo. Tinha um alaúde ao colo, a fonte da canção que povoava o ar e que o enchia de magia, de romance e de História, proporcionando-me lembranças e cenários de sonho. E tocava-o de olhos fechados, com uma completa serenidade estampada no rosto e com os lábios finos curvados num sorriso sonhador, como se a sua própria melodia a transportasse para um outro mundo, só seu. Fora o instrumento, a sua aparência era a mesma de sempre. Porém, ao contrário de todas as outras vezes em que a vira, não estava com o habitual ar de quem estava perdida e à margem da sociedade, como que perseguida pela sensação de não pertencer a lugar algum. Ali, no alto do ramo, tranquila, sorridente e aparentemente feliz, parecia estar no seu elemento. E, por algum motivo que não compreendi, olhar para ela, ao mesmo tempo que ouvia a sua canção e reconhecia que, de facto, se encaixava na perfeição com aquele ambiente, fez-me sorrir. Lembrava-me um bardo, personagem relativamente comum no início do mundo, que se fazia sempre acompanhar pelo seu instrumento e pela sua voz, pronta a cantar histórias. Olhar para ela e relembrar os tempos em que a magia reinava no mundo acendia em mim uma antiga esperança, a esperança de tudo voltar a ser como era.
Já li esta parte ^^ Foi uma das minhas favoritas, até agora ^^
ResponderEliminarKeep up the good work!! Em breve, já terei um opinião para ti =)
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R: Digamos que nem tudo acaba mal. Dado que retrata uma família num campo de concentração, acho que todo o filme é triste. Pelo menos fartei-me de chorar ao longo do filme. Mas é mesmo bonito ver o pai esforçar-se para o filho ter outra visão da vida. Devias ver, sem dúvida. É muito bonito. Mas se fores como eu choras imenso e andas dias a pensar naquilo x)
ResponderEliminarAssim que puder leio esta publicação!