Assim que o céu e o mar se tornaram negros e a sua cauda se tornou na única fonte de luz de que dispunha, Nae constatou que era hora de regressar a casa. Agarrou no seu pote de barro, e, antes de ir, perdeu algum tempo a observar a praia, na qual, como em tantas outras noites, reluzia uma fogueira, e diversos seres que habitavam aquele lugar estavam reunidos à sua volta. Chegaram-lhe aos ouvidos algumas vozes a entoar uma canção que lhe era desconhecida, assim como alguns risos e aplausos. Depois, Nae acabou por despertar, decidida a focar-se naquilo que tinha que fazer. Mergulhou num mar escuro e silencioso e nadou para longe da praia, próxima dos recifes de coral adormecidos e sem sinais de vida, com a luz esverdeada, emanada pela sua própria cauda, como companhia.
Após passar o campo de recifes, Nae chegou à planície arenosa que se estendia por quilómetros infindáveis até chegar a qualquer lugar sobre o qual não tinha conhecimento algum. Ao ver-se totalmente sozinha, sem nada em seu redor para além de areia e de água e sem ouvir um único som, como se o tempo, subitamente, tivesse parado, Nae fechou os olhos, pensou em casa e sussurrou as palavras mágicas.
A areia agitou-se, como se, naquele lugar líquido e inóspito, fosse possível haver vento, o mesmo vento que Nae gostava de sentir quando ia à superfície, fresco e revigorante. Abriu os olhos, vendo o próprio cabelo igualmente agitado à sua volta e a areia a movimentar-se, como que sujeita a uma tempestade, para revelar uma passagem em forma circular. Quando esta adquiriu dimensões suficientes para que Nae pudesse passar através dela, nadou ao seu encontro, ignorando o vento ilusório e a areia que se agitava, e entrou. Imediatamente, de forma demasiado rápida, a passagem fechou-se sobre a sua cabeça.
Percorreu a nova planície de areia branca que se alastrava por poucos metros, limite do mundo subaquático onde vivia. Todas as noites, era recebida pelas gigantes anémonas luminosas que ali se haviam fixado e que a ajudavam a iluminar o caminho até casa. Assim que a planície chegou ao fim, Nae meteu-se no buraco na parede rochosa que lhe barrou o caminho, e encontrou-se num lugar com mais vida e mais luz. O lugar a que chamava casa, onde viviam tantos outros seres como ela, com os seus navios naufragados a servirem de locais de convívio, os seus templos limpos e elegantes que encerravam mistérios, as torres com os seus contornos definidos, as grutas que conduziam a outros lugares e a chamavam constantemente para a aventura. Mas Nae ignorou-os a todos e dirigiu-se à pequena aldeia, povoada por casas de pedra, em direcção à qual outras sereias nadavam, prontas a dar o dia por terminado.
A grande concha que lhe servia de cama abriu-se assim que entrou em casa, convidando-a a descansar e a usufruir do seu conforto. Nae deitou-se, rendida, sem saber bem por que se sentia cansada e a necessitar de limpar a sua mente. Foi quando pousou o pote de barro ao seu lado que se lembrou do que teria que fazer no dia seguinte; que se lembrou de que o que teria que fazer no dia seguinte era aquilo que queria esquecer por mais algum tempo.
Ahh! Já tinha saudades de ler uma coisa tua assim! =)
ResponderEliminarÉ escusado dizer que quero saber o que vem a seguir, não é? =P
(Já agora, como vão os outros "filhos"!? Já sei que o "segundo filho" está a marinar, mas e os outros?! Sou uma cusca, eu sei, mas sou uma cusca fixe, vamos lá admitir ^^ ).
****
Fiquei curiosa para saber o que se segue. (:
ResponderEliminarsereias, ice queen? passei o dia todo de ontem a levar com a série das sereias do meu primo xD btw, a parte das anémonas luminosas a iluminarem-lhe o caminho ficou top no meu relato mental :o
ResponderEliminarr: eishhh, realmente ainda não tinha pensado nisso mas tens mesmo razão! eles são uns totós, é o que é -.-
Que lindo texto! Para além do jeito para o desenho também não te sais mal na escrita! Gosto de ler o que escreves ^^
ResponderEliminar-Alexandra
Blog ☆ Bloglovin' ☆ Google+ ☆ Tumblr ☆ Twitter ☆ We Heart It
Gostei muito texto! Vou voltar cá para saber mais!
ResponderEliminarBjxxx
diz-me que vais continuar este texto como uma história please! gostei imenso!
ResponderEliminarWow tens imenso jeito, adorei ler o teu texto, por favor (POR FAVOR!!!) continua, um beijinho grande. :)
ResponderEliminar