Não foi assim tão mau voltar às aulas ontem. Quer dizer, se calhar não foi mau porque a primeira semana é sempre uma caca, já que não há propriamente aulas, e porque é engraçado rever os colegas e pôr a conversa em dia.
Já quando ia a sair da faculdade, ao ver todos aqueles "doutores" com os seus trajes, lembrei-me inevitavelmente do meu regresso às aulas do ano passado.
Tinha chegado ao Porto no último dia de matrículas. A viagem tinha sido marcada à última da hora porque não fazia ideia de que ia ser colocada no Porto. Até tive que ir por Lisboa, já que voos para o Porto não existem todos os dias. Portanto, fui para Lisboa e depois de comboio para o Porto.
Apanhámos um táxi para a faculdade assim que saímos da estação. O taxista não sabia onde ficava a faculdade e ainda demos uma volta ao pólo para ver se a encontrávamos. Pudera - mas eu na altura não sabia -: aquela faculdade só tem nome; edifício próprio, nem vê-lo. Acabaram, então, por informar o taxista que a dita faculdade ficava dentro de outra.
Ele lá entrou no parque de estacionamento. Na entrada principal do edifício, estava um montão de abutres - tradução, de "doutores" vestidos de preto -, o que me levou logo a pensar Pronto, lá estão aqueles todos convencidos só por terem traje e por serem mais velhos; oxalá não me chateiem. Mas penso que aquilo que me chamou primeiro a atenção foi o tamanho da faculdade. Uma coisa monstruosa, comparada à universidade da treta onde tinha passado um semestre no ano anterior.
O táxi parou mesmo à frente da entrada principal - e dos abutres - e lá tivemos que descarregar as malas todas. Eu tinha logo três malas grandes, e isto sem contar com uma mais pequenina, com a do computador e com as dos meus pais. E o pessoal trajado a olhar. Deve ter pensado que éramos uns tolinhos. Pudera, estávamos a tirar as malas de um táxi e a encostá-las a um muro, como se nos fôssemos mudar para a faculdade.
Fui fazer a matrícula. Perdi muito tempo. Depois uma "doutora" levou-me a conhecer a faculdade e deixou-me ainda mais abismada. Aquilo era enorme. Parecia um armazém gigante, nada acolhedor e muito cinzento. E um pouco caótico também, sempre com muita gente a andar de um lado para o outro, alguns apressados. Ao lado do edifício havia um jardim; ao fundo havia um bar e uma torre com cinco pisos que a rapariga disse ser a biblioteca - outra coisa que me deixou estupefacta. E ainda havia mais, mais edifícios. Até comecei a ficar confusa e a pensar que me iria perder naquele campus.
A seguir foi hora de ir embora. Levámos as malas todas atrás de nós pela rua fora. Em todas as árvores da rua, havia anúncios de quartos para alugar. Era um assunto que teríamos que tratar mais à frente. Naquele momento, só nos importou chegar ao fim da rua, o que ainda demorou. Lembro-me de termos chegado aos semáforos e de o homem do primeiro carro da fila olhar para nós e começar a gozar. Disse qualquer coisa tipo Onde é que vais com tanta mala?! e riu-se. Depois rimo-nos nós quando o semáforo ficou verde e o carro do homem foi abaixo.
Isto foi numa sexta-feira. Passámos o resto desse dia e o fim-de-semana à procura de uma casa para mim. Vi umas más, outras boas, não chegámos a ver algumas que tínhamos pensado ir ver. Até que, no fim da tarde de domingo, encontrei aquele que se tornou no meu apartamento dos tempos de aulas.
E no dia a seguir começaram as aulas. Fiquei outra vez abismada ao entrar no primeiro auditório. Tão grande. Lá me sentei, a sentir-me perdida. Lembro-me que não houve a primeira aula. Houve a segunda, que era - ainda me lembro! - de biologia celular. Estive meia a dormir porque estava certa de que ia conseguir a equivalência à cadeira. A seguir houve anatomia, o meu pesadelo do primeiro semestre - e a melhor coisa do segundo, dá para acreditar? A prof era magríssima e, enquanto falava de esqueletos, eu só olhava para ela a pensar que ela é que era um esqueleto autêntico. E falava, falava e nunca se calava ou abrandava. Parecia que tinha tomado uns dez cafés antes da aula. Foi nessa aula que conheci, finalmente, alguém. Quando saímos, estavam abutres à porta da sala. Levaram-nos a almoçar. Pelo caminho, conversei com a rapariga que tinha acabado de conhecer. Descobrimos coisas uma da outra e disse-lhe que não queria saber da praxe. Ela disse-me o mesmo. Até fiquei contente. Isto porque, no ano anterior, toda a gente aderia à praxe, como se fosse automático: entras na faculdade, logo, és praxado. Aqui, já não. Aqui é mais: entras na faculdade e perguntam-te se queres ser praxado. E eu adorei esta regra, ehehe.
A fila para a cantina foi enorme, formada por todos os caloiros do curso. O almoço foi uma valente treta e uma combinação esquisita: rissóis com batatas fritas. Comemos vigiados pelos abutres. Eles diziam para nos despacharmos, mas eu continuei na minha, uma vez que não queria ser praxada. Foi um almoço muito desconsolado, mas pronto, comeu-se.
Penso que foi nesse dia que fui com a minha mãe ao IKEA comprar coisas para a casa. Quando voltámos para casa depois das compras, chorei por dois minutos feita tola, por a minha mãe estar a gastar tanto dinheiro por causa de mim que podia não servir para nada caso eu quisesse mudar de curso outra vez.
Assim foram os meus primeiros dias de aulas do ano passado, uma grande mudança. A partir de agora serão mais do mesmo, uma vez que já estamos familiarizados com tudo, desde os edifícios aos colegas. E depois lá volta a velha rotina do acordar, preparar-se, ir às aulas, vir para casa trabalhar ou descansar ou não fazer nada de jeito. É uma coisa de que não gosto nada, a rotina e as obrigações que vêm com ela de mãos dadas. Mas, o que tem que ser, tem que ser...e eu ainda não me sinto psicologicamente preparada para voltar à vidinha de estudante.
Pois é, tem que ser... Mas este ano não estou com vontade nenhuma :)
ResponderEliminarrealmente são poucas as pessoas que querem ser praxadas, eu se algum dia for acho que também não vou querer ser!
ResponderEliminarObrigada por participares
ResponderEliminarBem o ano passado foi tudo diferente este ano é mais do mesmo, por um lado é pior mas por outro bem melhor :)
ResponderEliminarQuanto à vontade de recomeçar, também não tenho nenhuma!
gostei de conhecer a tua história! eu este ano também mudei de curso e terei que me adaptar a estas mudanças. não conheço nada, nem a cidade :/ mas ja me matriculei! espero que me deem oportunidade de escolha, é que não quero ser praxada!
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