11/07/2015

Escrito por mim #3 - parte 3

Parte 2 AQUI.

Cantaram como se tivessem ensaiado. Como se se conhecessem desde sempre, quais amigos de infância que acabavam de se reencontrar após anos de separação devido à distância. Spencer cantou os primeiros versos, e, depois da curta pausa marcada pelo som da guitarra acústica, Lu entoou os que se seguiam. Sabia a letra daquela canção de cor e salteado, tal haviam sido as vezes que a ouvira desde o seu lançamento, que já contava com uma meia dúzia de anos. Cantaram o refrão em uníssono, as suas vozes a conjugarem-se naturalmente numa delicada harmonia, entre sorrisos, trocando olhares cúmplices nos momentos certos.
A princípio, a voz de Lu soara algo trémula, e ela própria nem a reconhecera ao microfone. Achara-a péssima como sempre e que entrara mal e que estava desafinada, ao mesmo tempo que sentia os olhares atentos – alguns dos quais invejosos e prontos a julgarem-na – do público cravados em si e notava um ou outro flash ocasional de câmaras. Mas, aos poucos, como se a presença de Spencer e a sua aparente cumplicidade para com ela a fizessem sentir confortável e descontraída, Lu deixou-se relaxar e fazer o que prometera a si própria quando transpusera a entrada daquele recinto: não se importar com as opiniões de quem a observava. Aos poucos, Lu esqueceu-se do público, fixando-se somente em Spencer, na canção e naquele momento mágico e completamente inesperado que estava a viver. Concentrou-se naquilo que Spencer dissera anteriormente. Diversão. Era só o que lhe importava naquela noite; era o que tinha dito que ia fazer assim que se pusera a caminho do concerto: divertir-se, sem pensar em mais nada. E, desta forma, sentiu-se rodeada por uma bolha, uma bolha que os abarcava a ambos, colocando-os num mundo onde não existia mais nada para além deles.
Quando a canção terminou, o retorno da euforia por parte do público rebentou a pequena bolha de felicidade que se formara. Spencer, após um último olhar, pousou a guitarra e levantou-se, levando Lu a fazer o mesmo, quase que inconscientemente. Apontou para ela, como se desse a entender que era a Lu que o público tinha que agradecer, já que, caso contrário, a canção não teria aquele mesmo impacto, aquela mesma magia. Lu, contagiada pelo ambiente – embora ainda com a sensação de ter sido mesmo má –, sorriu abertamente e fez uma pequena vénia, só mesmo por diversão. E riu-se com vontade, totalmente feliz e livre, enquanto rodava a cabeça na direcção de Spencer, como se quisesse procurar alguma pista no seu rosto que lhe dissesse o que devia fazer a seguir.
Lu surpreendeu-se por vê-lo ainda ao seu lado e a fitá-la, mas surpreendeu-se ainda mais quando este abriu os braços e a abraçou em pleno palco, como que em jeito de agradecimento por ter aceite o seu desafio e por ter sido a óptima parceira que ela tentava acreditar ter sido. Apesar da surpresa, porém, Lu não tardou a reagir e a abraçá-lo de volta, enquanto sorria com os olhos fechados, sentindo-se como se estivesse num sonho. Foi um abraço doce e sincero, que os transportou de novo para a bolha que os isolava do mundo, e que Lu gostava que tivesse durado para sempre.
Pouco depois, Spencer, ainda com um dos braços sobre os seus ombros, colocou-se ao lado de Lu e apontou para o fotógrafo oficial da banda, sobre o palco a poucos metros de distância deles e com a câmara em punho. Lu sorriu automática e abertamente, sem sequer saber se Spencer estava a fazer o mesmo. Amanhã, vai estar tudo online, pensou, sentindo-se privilegiada por vir a ser conhecida como a primeira fã que subira a um palco para cantar ao lado de Spencer Anderson.
Continua...

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