25/07/2015

Escrito por mim #3 - parte 4 (sem lamechices)

Parte 3 AQUI.
Quando o concerto chegou ao fim, Lu vestiu a sua camisa axadrezada para se proteger da diferença de temperatura e seguiu a multidão que se dirigia à estação de metro mais próxima, dando-se por satisfeita por não ser a única a tomar aquele meio de transporte. A noite estava calma, embora algum frio se fizesse sentir, como habitualmente. Lu abraçou-se a si própria numa tentativa de se aquecer um pouco, mas caminhou a um passo leve, sem parar de sorrir e de pensar na noite incrível que acabara de ter.
Estava prestes a chegar à estação quando uma luz de tonalidade rosada, vinda de cima, captou a sua atenção. Lu ergueu a cabeça, ao mesmo tempo que os seus passos abrandavam e ela própria começava a paralisar de terror. Estava mesmo ali, por cima da sua e de tantas outras cabeças, e ouviu reacções de espanto, de curiosidade e, tal como ela se sentia, de medo, de pânico. A grande massa cor-de-rosa brilhante, que se assemelhava a uma nuvem feita de estrelas e que parecia tão irreal a ponto de não fazer parte daquele universo, começou a desabrochar numa suave explosão como fogo-de-artifício, dando origem a uma lenta chuva de estrelas, pronta a atingir quem quer que estivesse no seu caminho. Era sempre um espectáculo lindíssimo de se ver, mas Lu não sabia se ficava petrificada devido à sua beleza, ou se devido ao pânico, por saber o que aquele fenómeno, aparentemente inofensivo e sem explicação, significava. Lu manteve-se imóvel, sentindo o coração a bater com força, e só conseguiu reagir quando ouviu gritos de horror e viu pessoas apavoradas a passar bruscamente por ela.
Correu o mais depressa que pôde em direcção à estação, em conjunto com outras quantas pessoas, qual manada de animais indefesos a fugir de um predador para o esconderijo mais próximo. Ignorou os gritos e as próprias estrelas que caíam e que já estavam tão próximas. Quando já se sentia segura, parou a meio das escadas da estação para recuperar o fôlego e ter um pequeno vislumbre do que se passava na superfície. O cenário era, agora, totalmente cor-de-rosa, e Lu conseguiu ver uns quantos ignorantes que não faziam ideia do que estava a acontecer. Observou-os a pegarem nos telemóveis para captar a fotografia perfeita do maldito fenómeno celeste, ou a esperarem, de braços abertos, que uma estrela cor-de-rosa os tocasse, só para saberem qual era a sensação. Lu abanou a cabeça e chamou-os, mentalmente, de idiotas, de irresponsáveis, e de tudo mais que se conseguiu lembrar. Aquele acto imprudente e aparentemente inocente iria afogá-los em arrependimentos para o resto das suas vidas.
Acabou por virar costas, concentrando-se em apanhar o próximo metro, juntamente com todas as outras pessoas que se haviam encaminhado para a estação após o concerto, antes que se visse forçada a apanhar outro sozinha. O veículo onde Lu entrou ficou imediatamente recheado de jovens vestidos de preto, muitos deles com o seu próprio estilo excêntrico e fora do comum, mas todos com um misto de boa-disposição e de cansaço nos seus rostos. Iam todos aos pares ou em pequenos grupos, trocando, animadamente, impressões sobre o concerto a que haviam acabado de assistir. Lu manteve-se de pé no interior do comboio, apanhando parte de uma conversa aqui e ali e observando, discretamente, tudo em seu redor. Sentiu-se só durante a viagem, por ser a única, de entre os jovens que acabavam de sair de um concerto, que não estava com um amigo e que não tinha uma pessoa com quem trocar opiniões daquela mesma forma entusiástica. Só, mas segura. Sabia que ali, debaixo da terra, a chuva cor-de-rosa não era capaz de a magoar, e, enquanto se mantivesse ao lado de outros seres humanos, mesmo que desconhecidos, não tinha razão para recear a noite.
O metro estava praticamente vazio quando Lu chegou ao seu destino. Apenas ela e duas outras pessoas saíram naquela estação, mas aquelas tomaram um caminho oposto ao seu, deixando Lu sozinha na rua, à mercê de qualquer perigo que se escondia nas sombras da noite. A chuva parara, mas muito mais podia acontecer. Apoderou-se de Lu um enorme desejo de já estar em casa, mas, do lugar onde estava, precisaria, ainda, de andar durante dez minutos para conseguir lá chegar. Dez minutos de angústia, que Lu sabia que seriam demasiado longos.
Sem ter outra opção, Lu pôs-se a caminho. Caminhar durante o dia não lhe trazia qualquer tipo de medo, como se a luz solar fosse capaz de afugentar o perigo e de lhe proporcionar conforto. No entanto, a noite era completamente diferente. Deixava-a desprotegida, receosa. Como se qualquer sombra albergasse uma ameaça, ou um olhar invisível que incidia nela. Se Lu tivesse alguém ao seu lado, sabia que, certamente, se sentiria melhor. Nem que fosse um grupo de desconhecidos à sua frente, que fosse para o mesmo lugar que ela. Mas Lu estava por sua própria conta, e não se via ninguém a pé. Apenas alguns carros passavam, ocasionalmente.
Assim que começou a andar, dizendo a si mesma para ter calma, que não ia acontecer nada e que estaria em casa em breve, tirou o telemóvel da mala que usava a tiracolo e protegeu-a. Colocou-o ao ouvido e fingiu que falava com alguém, numa tentativa de disfarçar o seu receio. Tentou ser discreta, mas o instinto levava-a a olhar para trás frequentemente, com medo de que estivesse a ser seguida. Mesmo ao deparar-se com uma rua deserta, Lu acelerava o passo, ansiosa por chegar a casa e sentir-se segura.
Continua...

6 comentários:

  1. Identifico -me com ela, odeio andar sozinha à noite

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  2. Também não gosto muito de andar sozinha à noite. Mas afinal que nuvem cor-de-rosa era aquela? :s

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    1. Mistério, ahah :P É algo que só vou revelar mais à frente, se resolver continuar com isto

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  3. Fiquei tão curiosa sobre esta chuva. E porque é que aqueles idiotas se iriam arrepender para o resto da vida? Eu sou como a Lu, odeio andar sozinha de noite, fico mesmo medricas :(
    Este capítulo fez-me lembrar Under the Dome :p

    R: Compreendo o que queres dizer, tem cenas bastante... Mazinhas? Falta-me a palavra. Curiosamente nesta série consegui viver com isso. Não te sei dizer se acontecem cenas dessas em todos os episódios. Na season 2 já não segue bem a história dos Medici, e lembro-me de ser mais pacífica - mas há sempre uma ou outra morte horrenda...

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    1. Estás nomeada para uma tag no meu blog! :D

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    2. Acreditas que só depois de o escrever é que me lembrei das "pink stars" e pensei "Isto está um bocado Under The Dome"? xD Mas deixei estar, porque adoro a ideia do cor-de-rosa...acho que, se escolhesse outra cor para a nuvem, a coisa já não ficaria tão bonita :P

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