31/12/2016

Sobre 2016

Este ano trouxe o começo de uma nova etapa. Comecei a trabalhar - pronto, é um estágio, mas, mesmo assim, foi o meu primeiro contacto com o mundo do trabalho - e deixei a vida de estudante para trás, da qual tenho tantas saudades. Pois é. Estava eu ansiosa por deixar de estudar e começar a trabalhar, mas não foi preciso passar muito tempo para me aperceber de que a vida enquanto estudante é que era boa. Adoro receber o meu próprio dinheiro e poder gastá-lo no que quiser sem ter que o pedir a ninguém. E, inicialmente, achava fantástica a sensação de chegar a casa depois de um dia de trabalho e não ter que voltar a pensar nisso até ao dia seguinte. Ou seja, de não ter que estar a estudar ou a fazer trabalhos. Mas, ultimamente, isto de andar mais desocupada está a cansar-me. Ando cansada de descansar, e nunca pensei vir a sentir isso. Este ano trouxe-me, assim, uma nova experiência, e, com ela, uma nova perspectiva em relação à vida, mas, também, algumas dúvidas e incertezas quanto ao futuro, em termos profissionais. Termino o ano sem saber bem se é isto que quero fazer e com o desejo de voltar a estudar em breve.
A par disso, 2016 foi um ano peculiar. E isto porque teve diversos altos e baixos. Dias demasiado bons e momentos fantásticos; dias péssimos e momentos terríveis. Especialmente nestas últimas semanas. O stress em relação ao trabalho aumentou, havendo dias em que isso me deitou abaixo. Reprovei num dos exames da Ordem e comecei a perguntar-me se valerá a pena continuar a insistir em algo só por ter que ser, e não porque me faz feliz. Apercebi-me de que os meus sentimentos em relação ao meu actual ex-namorado estavam a morrer e senti-me a pessoa mais horrível à face da Terra por causa disso. Algumas pessoas desiludiram-me, mas perdoei-as. E deixei de me reconhecer a mim própria. Perdi a vontade para tudo aquilo de que gosto de fazer e caí num estado depressivo e de tristeza que me trouxe os piores dias de que tenho memória. Esses dias ainda persistem, contudo, intercalados com dias melhores. Tenho tido altos e baixos, dias em que estou perfeitamente bem e em que sou eu própria outra vez e dias assim, em que me sinto completamente perdida, triste e sozinha e a achar que a vida não faz qualquer sentido por eu não estar feliz. Não é normal, e eu própria reconheço que não estou bem. Termino o ano assim, neste estado.
Mas o ano também me trouxe momentos maravilhosos, e é neles que prefiro focar-me. Apesar de ter reprovado num dos exames da Ordem, o outro correu super bem. Fui aprovada com distinção, o que me fez pensar que, afinal, fiz qualquer coisa bem ao longo do estágio. Que, afinal, até sou capaz de fazer alguma coisa de jeito no que toca ao trabalho. O estágio em si correu muito bem. Aliás, bem melhor do que estava à espera. Posso não morrer de amores por aquilo que faço e podem haver dias em que não gosto mesmo nada daquilo que faço, mas gosto muito do lugar em que estou e do ambiente. Deve ser a primeira vez na vida em que não me sinto tão deslocada e em que sinto que faço parte de alguma coisa. Mas já chega de falar sobre trabalho. Fiz novos amigos e reencontrei-me com antigos. Dei passeios fantásticos durante o Verão e descobri recantos tão bonitos que desconhecia por completo. Vi os Iron Maiden e os Nightwish, e foram das melhores noites da minha vida. Visitei Sintra pela primeira vez e adorei. Fui tantas - demasiadas, até - vezes a Lisboa e senti-me livre a cada momento. Posso ter chorado como nunca durante este ano, mas também sorri e ri tanto, mas tanto, e consegui sentir-me feliz durante algum tempo.
Para além disso, sinto que mudei. Não sei se para melhor ou para pior; só sei que, definitivamente, não sou a mesma pessoa que era no início do ano, nem tão-pouco a mesma pessoa que era há uns anos atrás. Sinto-me mais espontânea, com maior vontade de viver e de arriscar. Mais sarcástica também, e com menos medo de dizer o que penso. Mais verdadeira, talvez. Começo a expressar-me mais e a desabafar mais, e eu não fazia ideia do quanto isso era libertador. Acho que uma das melhores coisas que me disseram este ano foi que eu sou exactamente aquilo que demonstro ser. Ou seja, que não finjo ser alguém que não sou; que não finjo ser uma pessoa e, no fim, sou outra totalmente diferente. Foi algo mesmo bom de se ouvir.
Para 2017, o meu maior objectivo é pôr a cabeça em ordem. Pensar realmente - e pensar bem - naquilo que quero, sair deste estado negro e depressivo em que tudo parece tão triste e sem sentido e reencontrar-me novamente, voltar a ser feliz, a adorar a vida, a ver algo bonito e positivo em tudo. Espero voltar a estudar. Não sei se será um mestrado ou uma nova licenciatura - se bem que, se assim for, vou sentir que andei a desperdiçar estes anos todos e que tudo o que fiz foi em vão, apesar de, no fundo, não ser bem assim -; essa é uma das coisas na qual tenho que pensar muito bem. Mas vou voltar a estudar, isso é certo. Ando a pensar em começar a ter aulas de guitarra, algo que já quis há uns anos atrás, mas de que, entretanto, acabei por desistir. Voltei a lembrar-me disso, até porque tenho tempo livre de sobra, mas, para já, é apenas uma ideia e pode nem vir a concretizar-se devido à minha actual pouca vontade de fazer o que quer que seja. Vou continuar a tentar publicar o meu livro e espero que a vontade e a paixão por escrever regressem em breve. Quero muito ir ao concerto dos HIM em Junho. E vou passar quase duas semanas em Toronto, algo pelo qual estou muito ansiosa. Vou ter com uma amiga que lá está a viver de momento, e nessa altura os Delain vão lá estar e já começamos a planear ir juntas ao concerto. Vai ser tão espectacular, e eu mal posso esperar por essa viagem.
Acima de tudo, e isto vem na sequência do meu principal objectivo para o ano que se inicia, espero fervorosamente que 2017 me dê a oportunidade de ser feliz de novo.

27/12/2016

I think I've found a special friend

Quis desejar-lhe um bom Natal decentemente. Com direito a um daqueles abraços apertados e reconfortantes que tanto eu como ele adoramos. Mas não houve oportunidade para isso; as circunstâncias não o permitiram. Seria constrangedor, no mínimo, se o tivéssemos feito em frente a toda a gente. Há que manter uma certa imagem, por assim dizer. Por isso, apenas dissemos Bom Natal um ao outro. Tal como fiz com toda a gente.
Recebi uma chamada dele pouco depois de chegar a casa. E estranhei. Perguntou-me se podia descer, pois estava à minha porta. Quando lhe perguntei o que estava ele ali a fazer, disse-me que só queria vir desejar um bom Natal.
Desci. Falámos por uns cinco minutinhos, se tanto. Deu-me um presente. E um daqueles abraços. Enquanto isso, disse-lhe Agora sinto-me mal por não ter nada para te dar. Ao que ele respondeu Não vim cá com a intenção de receber alguma coisa. Sabes com que intenção vim cá, não sabes? Para receber um abraço destes. E isto, para mim, valeu mais do que todos os presentes de Natal possíveis e imagináveis.

23/12/2016

Christmas? Not really in the mood...

Já gostei mais do Natal. Pela primeira vez, nem me parece que é Natal e nem vontade tenho de celebrar. E isto por estar tudo tão diferente, por tudo ter mudado para pior. Mudou tudo desde a perda da minha avó. Desde aí, parece que todas as festas de família se tornaram vazias, sem graça e, até, parece que são um sacrifício para mim. E o Natal é como se fosse "a gota de água". Porque, enfim, é aquela festa de família. E, ultimamente, estar com a minha família tem sido algo sufocante. Ando cansada, farta de tudo e de todos. Com vontade de desaparecer e de estar o mínimo de tempo possível com esta gente.
O Natal, antes, significava matar saudades de casa e da família. Voltar para casa e voltar a ver a família eram coisas que me deixavam tão feliz... Até mesmo antes disso já me sentia feliz. Quando começava a ver os anúncios de Natal na televisão ou algumas decorações natalícias aqui e ali, já começava a ficar feliz. Significava que já não faltava muito para voltar a casa e àquele conforto e para voltar a ver e a estar com as pessoas de quem mais gostava...
Agora, já não há nada para o que voltar. Já não há saudades. Só há uma família que pareceu tornar-se irritante com o passar do tempo e uma casa para a qual não me dá vontade de voltar depois de um dia de trabalho e na qual não me apetece estar quando não estou a trabalhar. Tudo mudou desde que a minha avó deixou de estar entre nós. Tudo mudou desde que eu regressei a este lugar...
É o segundo Natal que passo nestas condições, mas não deixa de ser menos penoso que o Natal passado. Este ano, o meu espírito natalício andou abaixo de zero e não tenho qualquer vontade de celebrar. Mal podia, sequer, ouvir falar em Natal. Pela primeira vez, o Natal bem que podia passar-me ao lado.

17/12/2016

"Your music is saving me" #2

Tenho me apercebido de que ouvir música - ouvi-la mesmo, sem nada a distrair-me ou a ocupar-me para além disso, estando sem fazer absolutamente mais nada - não é a única coisa que me tem acalmado nesta fase depressiva. Por incrível que pareça, conduzir é outra das coisas que me acalma e que me deixa mais leve, mais livre. Muito provavelmente - aliás, penso que não é provavelmente, acho que é certamente -, porque o faço, claro está, a ouvir música. E não a porcaria da música de rádio, que parece deprimir-me ainda mais.
Há poucos dias, lembrei-me que tinha gravado um CD dos Evanescence. Fi-lo há anos atrás, quando os considerava a minha banda favorita. Foi a minha banda favorita durante anos. Gravei o álbum Fallen na totalidade, e, como ainda havia espaço no CD, acrescentei as minhas músicas favoritas do álbum seguinte, The Open Door.
Lembrei-me desse CD e levei-o para o carro. Desde aí, tem sido a minha melhor companhia. Ponho o volume bem alto e passo a viagem de carro a cantar. É sempre incrível a sensação de nos lembrarmos das letras das músicas de cor e salteado, mesmo passado tanto tempo desde a última vez que as ouvimos. E isso anda, definitivamente, a deixar-me mais calma e a animar-me. A salvar-me, mais uma vez.
Mas é mais do que isso. Ouvir este CD e aquelas músicas em específico tem sido diferente de ouvir um outro CD que me acompanha também bastante, que gravei apenas com músicas que colocam o meu ânimo bem lá para cima. E isto por causa das letras. As letras que eu sei de trás para a frente - umas melhor do que outras, diga-se de passagem -, mas que cujo significado nunca tinha entendido e às quais nunca tinha prestado tanta atenção como agora. Há certas frases, certos trechos, que se adequam tão perfeitamente à fase pela qual estou a passar, que até me faz impressão. Parece que foram mesmo escritas para mim, para esta fase em especial. E parece incrível e algo bizarro eu ter-me lembrado de voltar a ouvir Evanescence logo agora.
Até tenho dado por mim a desejar que a viagem entre o meu local de trabalho e a minha casa durasse mais tempo. Pois, se assim fosse, podia ouvir música aos berros e cantar dentro do carro durante mais tempo. Até porque nem tenho tido vontade de vir para casa. Ultimamente, estar em casa tem sido um autêntico tormento.

10/12/2016

"Your music is saving me"

Perdi a conta ao número de comentários deste género que li em vídeos do YouTube ou nas páginas do Facebook de diversas bandas. Na altura, não percebia ao certo o que queriam dizer; não faziam sentido para mim. Como podia a música salvar - no verdadeiro sentido da palavra - alguém? Mas, agora, entendo isso. Oh, entendo tão bem.
Ando a passar por uma fase demasiado horrível. Uma fase pela qual nunca passei antes. Não têm sido apenas dias maus. Têm sido semanas. É algo que dura há semanas.
Não sei explicar o que é. Apenas não sei o que se anda a passar comigo. Eu própria não me reconheço. A verdade é que ando a sentir-me demasiado em baixo. Triste. Chateada. Enervada. Sozinha. Sem vontade para nada. Sem nada que me anime. Tenho dias em que apenas choro. E tenho estado assim por causa de tanta coisa. Tanta coisa, que resolveu acontecer toda ao mesmo tempo. Está tudo a acontecer ao mesmo tempo, e eu não estou a conseguir aguentar isto.
Por causa disso, é como se a vida se tivesse tornado numa coisa horrível, vazia, sem objectivos, sem qualquer propósito.
Salva-se a música.
Nestes dias, nesta fase terrível pela qual ando a passar, ouvir música tem sido a única coisa que me apetece fazer quando me sinto no meu pior. Tem sido a única coisa que me anima, a única coisa que me dá alguma esperança. A música está, de facto, a salvar-me. E ainda bem que ela existe.

20/11/2016

Facto #46

Há dias em que me sinto tão sozinha, tão desamparada e tão "sem-objectivos", que dou por mim a pensar no quão triste e miserável a minha vida é. E pensar assim ainda me deita mais abaixo.

15/11/2016

O Nome do Vento - Patrick Rothfuss

Sinopse: Da infância como membro de uma família unida de nómadas Edema Ruh até à provação dos primeiros dias como aluno de magia numa universidade prestigiada, o humilde estalajadeiro Kvothe relata a história de como um rapaz desfavorecido pelo destino se torna um herói, um bardo, um mago e uma lenda. O primeiro romance de Rothfuss lança uma trilogia relatando não apenas a história da Humanidade, mas também a história de um mundo ameaçado por um mal cuja existência nega de forma desesperada. O autor explora o desenvolvimento de uma personalidade enquanto examina a relação entre a lenda e a sua verdade, a verdade que reside no coração das histórias. Contada de forma elegante e enriquecida com vislumbres de histórias futuras, esta "autobiografia" de um herói rica em detalhes é altamente recomendada para bibliotecas de qualquer tamanho.

Este livro foi das melhores coisas que me veio parar às mãos. Foi uma supresa fantástica e um verdadeiro deleite, que me proporcionou horas muito, mas muito bem passadas. É um livro brilhante, maravilhoso e tão cativante, que me deixou completamente rendida.
Na minha opinião, prima pela originalidade, não só pela história, mas, também, pela forma como está escrito. O livro - ou melhor, a trilogia - é a história do protagonista, Kvothe. Portanto, lemos o protagonista a contar a sua história. Kvothe conta-a a um cronista, com a condição de que precisará de três dias para tal. Este primeiro livro é o primeiro dia em que Kvothe conta a sua história. Cada livro é um dia, portanto - três dias, três livros. Um dia em que é contada uma história cheia de aventuras, de peripécias, de magia, de música, de conquistas e de perdas, de amor e de amizade, de aprendizagens e de fracassos; uma história em que nos são apresentadas variadíssimas personagens e locais; e tudo descrito de uma forma tão rica que só nos faz ansiar por mais e que nos maravilha por completo. Bem, pelo menos comigo foi assim.
Pode parecer estranho que a história de um livro inteiro se desenrole num só dia. Mas, na verdade, não é necessariamente assim.
Começámos com uma narrativa escrita na terceira pessoa, em que nos é apresentado um estalajadeiro misterioso e algo melancólico em relação à vida, que dá pelo falso nome de Kote. Experienciámos um pouco o seu quotidiano e conhecemos algumas coisas daquele mundo. Entretanto, conhecemos também o Cronista, até que, um dia, ambas as personagens se encontram. E é aí que a história do protagonista nos começa a ser contada. E, aí, a narrativa altera-se, passando para primeira pessoa. A partir daí, o livro desenrola-se tão naturalmente, que quase nos esquecemos que aquela é uma história dentro de uma história. Como que um livro dentro de outro livro. E, de vez em quando, a história que Kvothe nos conta é interrompida para regressarmos ao presente: ao mesmo dia em que esta começou a ser contada, e ao mesmo local - a estalagem -, onde Kvothe e o Cronista se encontram. Num momento podemos estar a ler a história de Kvothe, e, no outro, podemos, de repente, regressar ao momento presente. Podemos estar tão embrenhados na história, que é como se precisássemos de um momento para retomar o fôlego. Esses interlúdios funcionavam mesmo assim, como uma espécie de "abanão mental" para regressarmos à realidade - não à nossa realidade, como é óbvio, mas à "realidade" do mundo do livro - ou como uma tomada de fôlego; como se ler a história de Kvothe nos fizesse mergulhar literalmente e fossem necessários esses interlúdios para virmos à superfície e recuperarmos, pararmos um pouco. Foi esta a sensação que tive.
Depois, para além desta forma tão brutal como o livro está organizado, temos a história em si. E que história. Kvothe, para começar, é um artista. Faz parte de uma trupe que corre o mundo para entreter as povoações através do teatro e da música, e isto, no início, foi suficiente para me conquistar, porque gostei imenso da ideia. Para além disso, é uma personagem super curiosa e inteligente. E tão querida - entrou no meu top de personagens favoritas, definitavamente. Adorei mesmo este personagem. Isto porque adoro este tipo de livro em que conhecemos o protagonista desde criança e vamos seguindo a sua vida. Porque passámos a conhecê-lo tão bem, demasiado bem, que é como se, de certa forma, "crescêssemos juntos". Já me tinha acontecido isto com outra trilogia - a Trilogia do Elfo Negro -, e também o protagonista desta é uma das minhas personagens favoritas da literatura.
Mas, adiante. Não quero, de forma alguma, contar a história. Apenas dizer que começámos com uma vida de nómada e de artista numa famosa trupe e passámos para uma outra completamente diferente, de fugitivo, ladrão e sem-abrigo numa cidade que o despreza. E isto por causa da reviravolta que muda a vida do protagonista por completo, bem como a sua visão do mundo, algo que o assombrará para sempre, conduzindo-o a uma busca incessante por respostas que se mantém ao longo de todo o livro. Disto, passámos para uma outra vida, de um estudante numa universidade, e, depois, de um aventureiro que resolveu seguir uma pista sobre o acontecimento que marcou a sua infância e mudou a sua vida. Ao longo do caminho, cruzámo-nos com as mais variadas personagens, umas que podemos vir a adorar, mas outras que nem tanto, e explorámos diversos lugares. Mas, em todo o caso, há sempre dois grandes elementos em comum: magia e música. A magia pode estar presente em muitos livros do género, mas nunca da forma como nos é apresentada neste em específico. Porque a magia até tem outro nome neste mundo: simpatia. Completamente engraçado. E, quanto à música, bem, foi uma surpresa e tanto. Acho que nunca tinha lido um livro em que a música estivesse tão presente, especialmente num livro de fantasia. Podem haver livros de fantasia com canções e afins - Senhor dos Anéis, por exemplo -, mas nada quando comparado com este aqui. Até a forma como o autor fala sobre música é...diferente. Nota-se o quanto é importante para o protagonista. É-nos descrita como se fosse algo quase palpável. Algo imprescindível na sua vida. E Kvothe toca alaúde...o que poderia ser mais fofo? E um dos locais que mais adorei no livro - que foi onde se desenrolaram algumas das cenas de que mais gostei também - foi um bar, próximo da universidade, onde se juntavam artistas que partilhavam a sua música. Acho que foi uma ideia que resultou espantosamente bem. Porque este não é o típico livro de fantasia em que o protagonista parte numa demanda e percorre o mundo. Embora também percorra parte do mundo, existem estes aspectos - a universidade, as noites num bar - tão próprios da nossa realidade. E eu adorei esta espécie de junção dos dois mundos.
E, como não podia deixar de ser, há que destacar a escrita do autor, que é sublime. Para além de o livro ser super bem escrito e tão rico em detalhes, Rothfuss escreve coisas que só consigo classificar como lindas. Deixo-vos, aqui, os meus trechos favoritos:

Quando somos crianças, raramente pensamos no futuro. Esta inocência deixa-nos livres para nos divertirmos como poucos adultos conseguirão. O dia em que nos preocupamos com o futuro é também o dia em que deixamos a infância para trás.

(...) o Outono é a melhor altura para arrancar as raízes de qualquer coisa de que nos queiramos livrar de vez. (...) "Nos meses de Primavera, as coisas estão demasiado cheias de vida. No Verão, estão demasiado fortes e não se deixam ir. Já no Outono..." (...) O Outono é a altura certa. No Outono, tudo está cansado e pronto para morrer.

Saiam nos primeiros dias de Inverno, depois da primeira queda de temperatura da estação. Encontrem uma poça de água coberta por uma camada de gelo, fresco e recente, transparente como vidro. Perto do limiar da poça, o gelo conseguirá suportar o vosso peso. Deslizem para o interior. Mais ainda. Eventualmente, encontrarão um local onde a superfície não consegue suportar-vos. Aí, sentirão o que eu senti. O gelo fractura-se sob os vossos pés. Olhem para baixo e vejam as linhas brancas espalhando-se sobre o gelo como teias de aranha loucas e elaboradas. O silêncio é perfeito, mas conseguem sentir as súbitas vibrações agudas que se erguem a partir das plantas dos pés.
Foi isto que aconteceu quando Denna me sorriu. Não pretendo dizer que me senti como se o gelo estivesse prestes a ceder sob os meus pés. Não. Senti-me como o próprio gelo, fracturado, com rachas estendendo-se desde o local onde tocou o meu peito. Apenas me mantive inteiro porque os meus mil pedaços se ajustavam uns aos outros. Se me movesse, receava desfazer-me.
(Kvothe é um romântico e também o adorei por isso.)

Rendi-me completamente a esta história e fiquei mesmo apaixonada por ela. Considero este livro uma leitura obrigatória para fãs de fantasia. Foi dos melhores que já li até hoje e estou mesmo ansiosa por viver o segundo dia na estalagem, para ouvir Kvothe a contar novas histórias sobre si próprio. Um livro maravilhoso, não apenas pela história por si só, mas também pela forma como está escrito, em termos de organização e em termos da escrita em si. Recomendo vivamente.

13/11/2016

Em sequência do post anterior...

Resolvi deixar de pensar tanto no futuro quando isso só me deita abaixo. Afinal de contas, é sempre quando decido levar as coisas na desportiva e viver um dia de cada vez que tudo começa a melhorar e que a vida me surpreende. Posso vir a desiludir-me, no final. Mas, enquanto o "final" não chega, mais vale não pensar nisso. Mais vale deixar as coisas fluir e viver o presente. Se o presente me deixa feliz, mais vale ser feliz. Ser feliz agora. Sem pensar no futuro, mas manter, no fundo, uma leve centelha de esperança de que tudo irá correr bem. 
Só espero conseguir manter esse pensamento. Mas, mais do que isso, espero que não venha a dar-me mal.
Em todo o caso, ainda bem que existem pessoas que me fazem pensar assim e que me fazem tão bem. Se bem que, contudo, isto não deixe de ter a sua ironia...mas mais não posso dizer.

06/11/2016

Facto #45

Sinto-me completamente estúpida e ridícula por ficar tão em baixo e chorar que me farto por algo que ainda nem sequer aconteceu e que pode até nem vir a acontecer. Mas, neste caso em concreto, a probabilidade de esse "algo" acontecer é tão grande, que é como se eu já me estivesse a preparar para isso.
Tornei-me numa pessoa mais positiva, que, para além de tentar ver sempre um lado positivo em tudo, costuma pensar positivo, pensar que as coisas vão correr bem. No entanto, há certos casos - como este caso em concreto - em que parece não valer a pena pensar positivo. Porque, de tanto se pensar positivo, podemos vir a iludir-nos. E, depois, se acontece aquilo que mais temíamos, a decepção é ainda maior.

05/11/2016

Escrito por mim #8

A noite estava repleta de estrelas, e apenas algumas nuvens dispersas cruzavam o céu negro. Uma grande meia-lua observava-nos, como um olho branco semicerrado, e conferia um brilho prateado a tudo o que era capaz de alcançar. O vento de Inverno não se fazia sentir, tornando a noite numa das mais agradáveis até então, mas o ar não deixava de estar gelado. O meu rosto e as mãos estavam frios e nuvens de vapor formavam-se de todas as vezes que expirava o ar. No entanto, a felicidade de estar a voar, sobretudo ao lado dele, e a sensação de liberdade que aquele acto me conferia deixavam-me num estado de leveza tal, que era como se nada me pudesse preocupar. Na verdade, qualquer outro pensamento que pudesse ter não chegava sequer a formar-se na minha mente, desvanecendo-se como pó.
Lentamente, deixámos o campus e sobrevoámos a cidade. Estava coberta de branco e envolta numa anormal quietude. As ruas estavam iluminadas pelos candeeiros que funcionavam por meio de magia, mas não se via ninguém a pé. A cidade ocupava-se de tarefas do quotidiano ou repousava no mundo dos sonhos, refugiada num lar de calor e de conforto e protegida do frio do Inverno e da escuridão da noite, completamente alheia às duas almas que a sobrevoavam, fascinadas com o que viam, como se pertencessem a uma outra realidade e estivessem naquela apenas por passagem, a observá-la pela primeira vez. Flutuámos sobre a cidade junto aos edifícios mais altos, tão silenciosos que nos convencemos de que ninguém daria por nós. E tal parecia confirmar-se a cada segundo que passava, como se sentíssemos a própria cidade a dormir debaixo de nós enquanto voávamos. Era como se, debaixo de nós e a envolver toda a cidade, estivesse um manto invisível, a cobri-la com silêncio e com sossego, a impregná-la com um tipo de magia que a fazia dormir e evitar que olhasse para o céu e se deparasse com aquelas duas almas. Senti-me como uma espectadora, uma viajante, alguém que não tinha acesso àquele lugar. Como se, mais do que um manto invisível, existisse também uma espécie de redoma a cobrir a cidade e a separá-la de mim, a impedir que eu e ela, entidades pertencentes a dois mundos diferentes, tivéssemos qualquer contacto.
Durante todo o passeio, eu e ele não trocámos uma palavra, de tão absortos e deslumbrados com o que se estendia por baixo de nós e com a incrível sensação de voar, especialmente em boa companhia. Depois da cidade, sobrevoámos os seus limites. As colinas e as pequenas vilas que se espalhavam sobre elas, também adormecidas e cobertas de branco. Os bosques e as estradas que as separavam e as florestas mais densas e com as árvores mais altas, pelas quais deixei a minha mão aberta perpassar e sentir as suas folhas, que persistiam em pleno Inverno. Os ribeiros que as cruzavam aqui e ali e os sopés de gigantescas e imponentes montanhas rochosas que se erguiam em direcção ao céu. Tudo tão silencioso, que parecia inacessível e quase irreal, mas que, ao mesmo tempo, me deixava a imaginar uma vida de aventuras a percorrer tais cenários.
Elevámo-nos de encontro às nuvens antes de descermos a pique para o oceano banhado a prata pela lua, e aí apercebi-me do quão alto era capaz de voar e de como isso não me assustava ou preocupava, desde que o quisesse e estivesse confiante. Tal como tudo o resto, o mar encontrava-se calmo, e a canção imparável causada pela suave ondulação tranquilizava-me ainda mais. Aproximei-me o suficiente para inspirar aquele odor salgado e característico e para passar as pontas dos dedos ao de leve pela água, que rapidamente recolhi devido à diferença de temperatura. Quando as luzes da cidade, ao fundo, se tornaram demasiado próximas, tornámos a ascender.
Atravessámos as nuvens, uma e outra vez, subindo e descendo no ar somente para passarmos, uma vez mais, por aquela camada de vapor de água que se assemelhava ao mais fofo algodão. Por vezes, enquanto subia, dava meia-volta, ficando de olhos postos no céu com as suas inúmeras estrelas e vendo-as depois a afastarem-se assim que descia e a serem-me retiradas do campo de visão quando atravessava uma nuvem. Quando me cansei de as furar, permiti-me rodopiar no ar ou flutuar de barriga para cima, como tanto gostava de fazer quando me encontrava no oceano. Observava o céu estrelado ou a paisagem lá do alto, ao mesmo tempo que, dentro de mim, sentia a felicidade pura de uma criança.
A certa altura, senti-o atrás de mim, e deixei-me cair ao seu encontro, de costas e lentamente. Sentei-me, de costas para ele, na parte dianteira da vassoura, que ele me cedeu assim que me vira a aproximar-se. Não o fizera devido ao cansaço; o misto de sensações – felicidade, alegria, divertimento, leveza, liberdade – que crescia a cada segundo dentro de mim impedia que qualquer forma de cansaço se manifestasse. Fizera-o para estar mais próxima dele, como que para partilhar, com ele, aquelas sensações. Mesmo que tal não fizesse sentido algum.
Uma das suas mãos continuava a segurar o cabo da vassoura, para poder conduzi-la. Agora com o peso de dois corpos, optou por conduzir a vassoura num voo lento e em frente, sem um destino em particular. Continuávamos sobre o oceano, qual manto de veludo negro ondulante, com a cidade à nossa frente, cujas construções subiam no espaço como uma escadaria e eram intercaladas por minúsculos pontos de luz quente e suave, que faziam lembrar pirilampos. O outro braço dele rodeou-me o ombro e a parte da frente do meu corpo, ficando a sua mão pousada no meu ombro contrário. Assentou o queixo nesse meu mesmo ombro, ao mesmo tempo que me puxava mais para perto de si, lenta e gentilmente. As minhas costas ficaram contra o seu peito. Senti o seu calor, suave e reconfortante, a ser-me transferido, bem como a sua respiração junto ao meu pescoço. O coração martelava-se-me fortemente no peito, mas um sorriso de felicidade e de deleite desenhou-se sem esforço no meu rosto, como que num gesto involuntário. Naquele momento, senti-me feliz, protegida e invencível, como se não houvesse mal algum no mundo capaz de me magoar, como se tudo fosse possível. E só quis que tudo aquilo – eu e ele abraçados em pleno ar, sobre o oceano, com a cidade iluminada à nossa frente, envolvidos por uma bolha de felicidade e alheios ao resto do mundo – durasse para sempre.

Obs.: a música Walking in the Air, dos Nightwish, para além de absolutamente linda, foi uma grande fonte de inspiração para este texto.

30/10/2016

Facto #44


Não sou uma pessoa expressiva. Daquele tipo de pessoa que expressa aquilo que sente - leia-se: sentimentos - como se falasse do estado do tempo. Já aqui, há uns anos atrás, falei sobre isso. No entanto, acho que acabo por perder por ser assim. Por não dizer as coisas. Por preferir não falar, achando que as pessoas sabem aquilo que sinto. Um pensamento errado, eu acho. Que comecei a achar errado, aliás, ultimamente. Primeiro, porque as pessoas não estão dentro da nossa cabeça e não vão adivinhar o que sentimos. E, segundo, porque nós próprios podemos não passar a ideia correcta. Podemos, involuntariamente, ter certas atitudes ou dizer certas coisas sem controlarmos, que levam os outros a achar que nos sentimos de determinada maneira em relação a eles. Que nos sentimos de uma maneira que não corresponde à verdade.
Já perdi uma pessoa por não ter dito o que sentia. Ou melhor, por não ter sido capaz de admitir o que sentia em relação a essa pessoa e por só me ter apercebido disso quando já foi tarde. Ando a lembrar-me disso constantemente e a dizer a mim mesma que não quero cometer o mesmo erro.
Mas é-me demasiado difícil expressar-me. Enquanto para algumas pessoas é algo completamente natural, para mim é demasiado assustador. Ando a trabalhar nisso, mas, mesmo assim, fica sempre algo por dizer. Acabo sempre por pensar que podia ter dito mais.
Apesar de tudo, estou mesmo disposta a ultrapassar isto. A expressar-me e a não deixar nada por dizer, apesar de todos os medos. Antes que seja tarde.

29/10/2016

Just friends

Ele (depois de debitar uma lista de coisas de que gosta acerca dela): Gosto dos teus abraços. São tão apertados e quase fico sem respirar, mas pronto...
Ela: Ups. Desculpa.
Ele: Não; eu gosto. São tão gostosos. Tão bons.
Ela: Aww...
E limitou-se a continuar a olhar para ele e a sorrir feita parva. Enquanto ele continuava a debitar a lista de coisas de que gosta acerca dela. 

22/10/2016

A felicidade consegue ser tão simples

Perguntaram-me o que era preciso para me fazerem feliz. Respondi que basta mostrar-se que se importam. Que se preocupem, que demonstrem que gostam de mim e que querem estar comigo. Não sei como me saiu esta resposta, mas é mesmo assim. Vindo dos outros, não preciso de muito para me sentir feliz. Porque, vendo bem, passar um bom bocado com alguém de quem gosto - seja a tomar um café e a conversar, seja a dar um passeio, ou qualquer outra coisa - faz-me sentir feliz. Sinto-me feliz quando isso acontece; sinto-me feliz quando recebo um convite ou quando se programa qualquer coisa; sinto-me feliz no momento em que estou com essas pessoas e sinto-me feliz quando as deixo e quando regresso a casa. Não deixa de ser estranho este sentimento. Isto é, de existirem pessoas que nos fazem tão bem. Que nos fazem sentir bem, valorizadas, especiais, felizes - em separado ou tudo isto ao mesmo tempo.

18/10/2016

Quando a música fala por nós


Há umas semanas atrás, estes versos adequaram-se:

We had fire in our eyes
In the beginning I
Never felt so alive
(...)
I swear, I never meant to let it die
(...)
It's not fair when you say that I didn't try
Three Days Grace - Let It Die

(...)should have last forever
But now it's time to sail on 
So take this anchor from my heart
So we can finally drift apart 
Before we drown in sorrow

Hoje, o verso que se adequa e que nunca fez tanto sentido como agora é este:

I am scared to death to fall in love with you.

14/10/2016

Mais de 1000 razões para ser feliz #23

Depois de ter estado tanto tempo - semanas, meses - parada no que toca à escrita do meu livro, voltei a fazê-lo. E voltei em força. Estou novamente tão entusiasmada em relação a isto. Senti tanto a falta de escrever.

13/10/2016

Halo, Hades e Céu - Alexandra Adornetto


Sinopse (Halo): Três anjos - Gabriel, o guerreiro; Ivy, a curandeira; e Bethany, a mais jovem e humana de todos - são enviados para levar o Bem a um mundo que sucumbe ao poder das trevas.
Esforçam-se por esconder o brilho luminoso que os envolve, os poderes sobre-humanos que detêm e, representando o maior dos perigos, as asas, ao mesmo tempo que evitam qualquer tipo de relação com os humanos. 

Mas Bethany conhece Xavier Woods e ambos se revelam incapazes de resistir à atração que sentem um pelo outro. Gabriel e Ivy tentam tudo para impedir aquela relação, mas o sentimento que une Xavier e Bethany é demasiado forte. 
A missão dos anjos é urgente e as forças das trevas são ameaçadoras. Irá o amor lançar Bethany na perdição ou salvá-la?

O que mais me levou a querer ler esta história foi o facto de se tratarem de anjos enviados à Terra. Porque achei diferente. Apesar de saber que estava perante (mais) um típico Young Adult em que o final da história parece previsível, chamou-me à atenção a questão dos anjos. Por nenhum motivo em especial; apenas por ser algo diferente do que era habitual. Para ser honesta, considero-me ateia, pelo que nem sequer pus a hipótese de a questão da religião católica estar implícita nestes livros. Bem, enganei-me.
É um romance, sim, mas é uma história que também fala do Céu e do Inferno, de Deus e de Lúcifer. E, sinceramente, isto foi algo que nem sequer me fez comichão. Pelo contrário. E não fez porque, bem, estava a ler um livro. E, num livro, pode acontecer qualquer coisa. Pode-se falar sobre tudo e mais alguma coisa, que nada me faz espécie. Para dizer a verdade, gostei bastante da forma como a autora abordou estes temas. Da sua visão do Céu, tão estranha, bizarra e "vazia", mas tão gira ao mesmo tempo, e até da forma como os três anjos que protagonizam a história falam de Deus - nota-se algo como amor genuíno, como se fosse realmente pai (de sangue) dos três. São referidas histórias e passagens da Bíblia que se enquadraram muito bem na história, e, nisto, nota-se estudo e pesquisa por parte da autora, que é algo que eu admiro quando leio um livro. Dá-nos, ainda, a conhecer a forma como o Céu está organizado; que existem vários tipos de anjos - os Arcanjos, os Serafins, os anjos "mais baixos", por assim dizer -, cada um com a sua função, e que os comuns mortais que lá vão parar não passam, bem, de almas que por lá andam.
No que toca ao lado oposto, o Inferno, lá chegarei.
O primeiro livro da trilogia, Halo, apresenta-nos, como não podia deixar de ser, as personagens e toda a hierarquia celeste. Logo nas primeiras páginas, é quase impossível não se ficar rendido à escrita da autora. Era ainda muito nova quando escreveu o livro - não sei dizer a idade ao certo, porque, ao fazer uma pesquisa, cada site indicava uma data de nascimento da autora diferente -, mas isso nem sequer se nota. Tem uma escrita muito rica, cheia de detalhes, com muitas comparações pelo meio, tal como eu gosto. É facílimo imaginarmos um espaço ou uma personagem através das suas descrições. Não são descrições exaustivas; antes, cada frase vem cheia de detalhes que nos faz logo imaginar tudo, sem sequer nos apercebermos. Apenas não gostei das constantes interrogações ao longo da escrita - Será que...? e outras coisas que tais apareciam com frequência durante a narração, e isso é algo que, pessoalmente, não aprecio. Para além disso, as personagens são muito bem caracterizadas. Têm uma personalidade bem vincada, e apercebemo-nos mais disso quanto mais lemos e quanto mais vamos avançado na história. Às tantas, já conseguimos adivinhar as reacções de determinadas personagens aos acontecimentos, tendo em conta as suas características - mas não tenho a certeza se isso é algo bom ou mau.
No primeiro livro, Beth, o anjo mais jovem, conhece Xavier e vamos acompanhando a evolução da sua relação. Que não deixa de ser um bocadinho rápida e um tanto um quanto cliché: o rapaz giro do liceu apaixona-se pela rapariga nova. Típico dos YA, mas voltarei a abordar esta questão mais abaixo. A certo ponto, a relação de ambos tornou-se demasiado melosa e pirosa para meu gosto e achei que as coisas eram um bocado exageradas. Mas é muito giro ver os anjos - principalmente a Beth - num mundo que não é o deles, a tentarem adaptar-se a coisas tão básicas e tão banais para nós como o facto de terem que comer ou dormir, a tentarem esconder a sua identidade e a não saberem o significado de determinadas coisas, como certas expressões, por exemplo.
O segundo livro começa bem, na minha opinião, e isto porque a Beth é chamada à razão pelas amigas, no que toca ao facto de a sua relação com o Xavier se ter tornado...bem, demasiado peganhenta. Falam em como é saudável não se estar sempre juntos, algo que eu concordo. E gostei que a autora falasse nisso; acho que não tinha visto esta questão a ser abordada noutros YA. Para além disso, há uma reviravolta, e é aí que passamos a conhecer o chamado Inferno. Tal como aconteceu com o Céu, a descrição da autora deste lugar surpreendeu-me. Conhecemos um mundo diferente, com lugares que nada têm a ver uns com os outros, e personagens diferentes. É um lugar bizarro, também, mas desengane-se quem pensa que não é o típico Inferno de angústia e sofrimento do qual se ouve falar. E é quase impossível não nutrir uma certa "simpatia", digamos assim, pelo vilão da história, que já surgira no volume anterior. Pelo menos eu falo por mim; parece que tenho sempre uma queda pelos bad boys das histórias, e este não foi excepção.
No terceiro livro, há novas reviravoltas e novas peripécias, e está sempre no ar e a cada virar de página a dúvida se Beth e Xavier conseguirão, realmente, ficar juntos. Não apenas por ela ser um anjo e ele um humano, mas também porque a sua estadia na Terra é temporária, tendo ela e os outros dois, Gabriel e Ivy, sido enviados apenas com uma missão - em que, no entanto, têm que se misturar e viver como humanos para não darem nas vistas. Mas, para além disso, travarem qualquer tipo de relação com humanos não fazia parte dos planos, pelo que as autoridades celestes vêem-se obrigadas a intervir quando se apercebem que as coisas foram demasiado longe. E é por isso que há sempre aquela dúvida se vão ficar juntos ou não.
Este último volume surpreendeu-me. E isto porque, afinal, o famoso cliché dos YA tem uma razão de ser. Ou seja, há uma explicação para Xavier se ter apaixonado por Beth - uma explicação para ter sido ele, e não outra pessoa qualquer -; não foi uma simples obra do acaso. Foi algo que me surpreendeu e algo que gostei de ver num livro deste género. E a dita explicação seria perfeita e tinha tudo para dar certo...se não fosse um pormenor, referido no primeiro volume, que fez com que as coisas não fizessem sentido. Ou seja; gostei que houvesse uma explicação, estava mesmo surpreendida e entusiasmada com isso, mas, depois, fiquei frustrada. Porque a explicação não fazia sentido, e não fazia por causa de algo referido no primeiro livro! Em suma, passei o que restava deste terceiro livro à espera que me explicassem isso melhor e que houvesse uma resposta ou uma explicação para isso...e nada! Francamente, isso irritou-me. Como é que nem a autora, nem os revisores, nem ninguém reparou nesse deslize? Não percebo. Desde aí, ando a pensar seriamente em mandar um e-mail à autora a pedir-me que me explique tudo isso. É que não faz sentido!
Mas enfim. Não deixa de ser uma boa história. Bonita, diferente, engraçada, muito cativante, não só em termos de enredo, mas também no que toca à escrita em si, que é igualmente bonita e torna os livros em algo leve e fácil de ler. Devorei estes três livros e gostei mesmo muito deles. Tive imensa pena que a suposta explicação não fizesse sentido por me lembrar do raio de um pormenor - que muda tudo, se virmos bem - e gostava que o final tivesse sido mais desenvolvido. Mas, tirando isso, gostei bastante.

09/10/2016

Descompliquem

Eu sou assim. Geralmente, quando me propõem um programa, alinho. Pode não ser logo na hora, mas alinho. Porque estar com pessoas de quem gosto sabe-me sempre bem. E, como nem sempre isso é possível, aproveito estas raras oportunidades. Estes raros Vamos?. Mesmo que já tenha planeado outra coisa qualquer, mesmo que não seja fim-de-semana, mesmo que a minha vontade seja ficar em casa durante o que resta do dia...é com um Vamos! que eu respondo. Porque sei que são coisas que me vão fazer bem e que podem não se vir a repetir tão cedo.
Não sei por que não existem mais pessoas assim. Podem até existir mais pessoas assim do que eu sequer imagino, mas, infelizmente, ainda não as encontrei para poder rodear-me por elas. As pessoas, regra geral, são tão complicadas. Tão pouco espontâneas. Que, quando ouvem um Vamos?, parecem não ficar minimamente felizes por nos termos lembrado delas. Não respondem com um Vamos!, não tomam a iniciativa. Dizem, antes, um vago Depois combinamos. Complicam.
Preciso mesmo de pessoas assim, descomplicadas e espontâneas. Como eu acabei por me tornar.

06/10/2016

Ao meu primeiro namorado - que eu achei que seria o único

Não vou escrever um texto sobre como nos conhecemos. Nem sobre tudo o que vivemos durante estes sete anos e meio, sobre as prespectivas de futuro que tínhamos e que não se realizaram ou sobre o modo como as coisas poderiam ter sido. Nem sequer vou escrever sobre os motivos que me levaram a achar que este seria o melhor desfecho, tanto para mim, como para ti também. Não, não vou escrever sobre nada disto. Só te quero dizer Obrigada.
Obrigada por teres gostado de mim como sou. Obrigada por me teres feito sentir amada e especial. Obrigada por teres sido o meu primeiro melhor amigo, o meu primeiro beijo e o meu primeiro namorado. Obrigada por todo o apoio que me deste ao longo deste tempo, por toda a paciência que tiveste para mim, por toda a compreensão que revelaste. Obrigada por todos os mimos e pela melhor surpresa que me fizeste - apareceres à porta do meu apartamento no Porto sem avisar. Obrigada por todos os lanches e todos os jantares que tivemos juntos. Obrigada por todos os passeios que demos, aos mais diversos sítios. Obrigada por me teres dado a conhecer os Porcupine Tree - e outras bandas, mas principalmente esta - e por me teres apresentado ao universo do Senhor dos Anéis. Obrigada pelas maratonas de episódios de True Blood, pelos serões de filmes e de jogos na Wii e pelos momentos em que apenas nos aninhávamos um no outro, mesmo que não disséssemos nada. Obrigada por todas as conversas que tivemos. Obrigada por todos os outros programas que tivemos juntos. Obrigada por teres tido fé em mim e por me teres levantado nas piores alturas. Obrigada por me teres feito sentir a pessoa mais feliz e sortuda do mundo. Obrigada por todos os momentos, por todas as memórias que vou conservar para sempre. Obrigada pelo amigo que foste, pelo namorado que foste e pela pessoa que foste. E por aquilo que nós, juntos, fomos. Em suma, obrigada por tudo.
Infelizmente, o futuro nunca é como imaginamos. E, se há coisa que não conseguimos controlar, é o nosso coração. Mais concretamente, aquilo que sentimos.
Não penses que não me custou olhar para ti e ver a tua dor enquanto te dizia que o melhor seria seguirmos caminhos diferentes. Sabia que estava a partir-te o coração; não penses que isso não me custou. Não penses que também não sofri e que não me senti uma pessoa horrível ao dar-me conta do que estava a acontecer connosco. E, por favor, não penses que me vou esquecer de tudo o que vivemos durante todo este tempo e de todas as memórias que me proporcionaste.
Só espero, quando todo o teu sofrimento passar, que possamos ser os mesmos amigos que sempre fomos. Até lá, só quero que fiques bem. E que sejas feliz. Eu sei que vais conseguir.

04/10/2016

Sobre o estágio...outra vez

Bem sei que não tenho falado de outra coisa ultimamente - e há tantas outras coisas sobre as quais quero escrever -, mas não podia deixar passar em branco a renovação do meu contrato.
Pois é. Nove meses depois, praticamente no final da primeira fase do programa de estágios, disseram-me que queriam que continuasse na empresa. Devo ter ficado com uma cara de parva misturada com uma cara de miúda feliz quando me deram a notícia. Não estava nada, mas nada à espera disto. Nem, confesso, estava à espera de ficar tão contente como fiquei.
No dia em que o soube, fui para casa mesmo feliz, por diversos motivos. Primeiro, gostaram do trabalho que fiz até agora, e, graças a isso, senti o mesmo que já referi no post anterior: que, afinal, fiz alguma coisa e que valho alguma coisa. Depois, isto significa que vou passar bastante tempo sem ter que pensar no que fazer a seguir; que não vou ficar em casa desamparada e a desesperar à procura de emprego ou a pensar no que raio fazer da minha vida. E, com isto, vou continuar a ganhar uns trocos - é desta que vou investir numa PS4! (ou talvez não). Para além disso, já estava a ver a vidinha a andar ligeiramente para trás quando me imaginava num novo emprego, a conhecer novamente um local e as pessoas desse mesmo local, a não saber ao certo o que tinha que fazer, a tentar provar o meu valor a novos chefes, enfim. Sempre me foi difícil adaptar-me a novas situações e preciso sempre de algum tempo até que consiga, de facto, sentir-me adaptada. E estava a ver que, agora que as coisas estavam a correr tão bem e que já me sentia tão adaptada e tão à-vontade naquele local e com aquela gente, teria que me ir embora.
Tudo isto me deixou feliz como nunca tinha imaginado. E toda a gente ficou feliz por mim - família, pessoal da empresa, enfim -, o que só me deixou mais contente. A minha mãe até me disse que estava orgulhosa de mim. Nem imaginam como foi bom ouvir isso.
Uns dias antes de saber do meu "destino", apostei um jantar com uns colegas da empresa. Caso renovassem o meu contrato, pagava eu. E, bem, parece que vou mesmo ter que tirar um dinheirinho da minha conta para pagar um jantar um dia destes... 

20/09/2016

Sobre o estágio

Voltou a correr bem. Depois daquela fase em que me senti triste e desmotivada, ansiosa para que aquilo acabasse, voltou a correr bem assim de repente. Não sei porquê, mas ainda bem que assim foi. Acho que é o facto de ter mais coisas ou coisas novas para fazer que me dá outro ânimo - porque não suporto estar num suposto local de trabalho parada, a sentir-me uma inútil. Para além disso, o meu relatório para a Ordem está pronto e entregue - foi o relatório mais rápido que já fiz na vida -, e graças a ele tive maior noção daquilo que fiz ao longo destes meses. Notei que fiz alguma coisa, que contribuí com alguma coisa. Mais do que o próprio relatório, foi o parecer da minha orientadora que mais me ajudou a ver precisamente isso. Não estava nada à espera de um parecer daquele género e confesso que fiquei babada, com a sensação de dever cumprido - embora ainda haja muito trabalho pela frente - e de que, afinal, valho alguma coisa e fui capaz de alguma coisa.
Penso que foi por aí que as coisas voltaram a melhorar. Deixei de me arrastar para o trabalho; deixei de achar que ir para lá todos os dias era um enorme sacrifício. Até os dias e as semanas têm passado a voar. Já estou tão acostumada àquele ambiente e àquelas pessoas que vai ser tão estranho ir-me embora dali. Especialmente por causa das pessoas. Afinal, se não tivessem sido tão simpáticas, tão prestáveis e brincalhonas desde o início, a coisa não teria corrido tão bem. Fizeram sempre os possíveis para que me sentisse integrada, e isso ajudou bastante.
O meu contrato como estagiária termina no final deste mês. Há a possibilidade de ser prolongado por mais nove meses, mas nunca tive grande esperança que tal acontecesse. Tive sempre a sensação, desde o início do estágio, que só estaria ali por nove meses e que não haveria mais do que isso. Olhando para trás, acho que foram os nove meses mais rápidos da minha vida.
Sempre tive essa sensação, porque era isso que me davam a entender. Nos últimos dias, tem surgido, inesperadamente, mais trabalho para mim, da minha área, pelo que pode, até, haver uma pequena hipótese de prolongarem o meu contrato. Mas tenho quase a certeza de que vou ficar por aqui, e acho que vou manter esse pensamento para não me (des)iludir. Quase toda a gente é da opinião de que devia continuar na empresa e alguns até têm um feeling de que tal pode acontecer - não só pessoal da empresa, como também da minha família -, mas eu duvido muito. Até porque tal decisão tem que passar pelo director da dita cuja. É ele quem dá a palavra final, mesmo que a opinião geral seja manterem-me lá. E é por isso que não tenho grande esperança, porque parece que, desde o início, só precisariam de mim por nove meses e depois acabava. Como se o meu trabalho pudesse ser feito por outra pessoa qualquer, quando isso não é verdade. Ou, então, acabarão por arranjar outra estagiária para o meu lugar. Nunca se sabe.
Houve uma altura em que isso me preocupou. O sair de lá no final de Setembro e ficar desamparada de novo. Depois, houve a altura em que não queria saber, que até preferia ir-me embora no final de Setembro porque estava fartinha daquilo tudo. Agora, para ser sincera, estou preparada para o que vier. Se quiserem que continue lá, não vou dizer que não; acho que seria uma estupidez recusar trabalho, sobretudo quando não tenho um plano B. Se não quiserem, está tudo bem na mesma. Costumava dizer que ia deprimir em casa e desesperar à procura de trabalho, ao que os meus colegas diziam que ao menos podia descansar a cabeça por uns tempos e ficar como que de férias. Dito assim, até não é uma má ideia, uma vez que nem tive férias durante este Verão. E aproveitarei para me focar no exame da Ordem. E, depois disso, logo verei o que fazer. Já não temo nada. As coisas acontecerão.
O certo é que é já esta semana que vou saber "o meu destino na empresa" e já ando a ficar ansiosa.
Seja como for, e como não podia deixar de ser, aprendi muito e cresci muito neste estágio. Foi numa área da nutrição tão diferente, tão fora da minha zona de conforto que, muitas vezes, receei não estar à altura das tarefas. Mas fui-me surpreendendo a mim mesma e superando obstáculos, para, agora, sentir-me muito mais confiante e tornar-me noutra pessoa que não a miúda assustada que entrou na empresa nos primeiros dias. Levo coisas boas daqui, sim. E a melhor - que não deixa de ser a mais inesperada também - é uma amizade. Que eu tenho a certeza que durará muito tempo.

18/09/2016

Nightwish - Endless Forms Most Beautiful Tour

Fotografia retirada do Facebook oficial da banda (e editada por mim).

Nightwish é uma banda que ocupa um lugar especial no meu coração. É uma das minhas bandas favoritas, que me acompanha desde os dezasseis anos, que me fez apreciar a música de outra forma e a primeira banda de metal que ouvi. Antes de ouvir esta banda, eu - bem como muita gente que não sabe do assunto e que pode nem querer saber - tinha aquela ideia pré-concebida de que o metal era apenas berros e barulho, algo que nem sequer se podia considerar música, e que era preciso ser-se muito tolo ou estar-se super deprimido e mal com a vida para se conseguir ouvir tal coisa. Mas ouvir Nightwish veio mudar completamente esta minha forma de ver as coisas, principalmente porque me apresentou um género musical que eu nem sabia que existia: metal sinfónico. Metal sem berros, mas com uma bonita voz feminina, com tanto de doce como de poderosa, no seu lugar; metal sem instrumentais pesados, arrastados, deprimentes e barulhentos; metal com uma orquestra, com sonoridades viradas para o teatral ou o cinematográfico, e com canções que contavam histórias e que me faziam imaginar histórias, não só devido às letras, mas também devido à melodia e aos instrumentos, que criavam um ambiente completamente distinto de tudo o que ouvira até então. É difícil, a meu ver, explicar o quanto se gosta de uma banda, daí que seja difícil, para quem me lê, compreender a adoração e a admiração que tenho por esta banda em concreto. O facto é que é uma das minhas bandas do coração e das melhores que já ouvi. Parece que foi graças a ela que nasceu, em mim, uma grande paixão por música - porque, antes dos meus dezasseis anos, eu mal ouvia música por minha iniciativa; não havia nada de que gostasse realmente. Foi graças a ela que comecei a ouvir outras bandas, outros estilos e que, finalmente, encontrei os meus géneros musicais de eleição e as melhores bandas do mundo - para mim, como é óbvio. Percebi que o metal não é só berros e barulho. Percebi o quanto pode ser bonito. Passei a ver este género musical com um novo olhar, a apreciar alguns dos seus subgéneros e a gostar de explorar este novo lado do mundo da música. E, assim, nasceu a pequena metaleira que hoje vive em mim e que parece que nunca me vai abandonar.
Quando soube que os Nightwish vinham a Portugal, não pensei duas vezes. Não pensei na loucura de comprar um bilhete de avião para poder ir vê-los, nem tão-pouco pensei naquilo que poderiam pensar de mim por estar a fazer isso - que estava a passar-me, que estava a ser doida, que estava a fazer algo um bocado parvo. Muitas pessoas podem não compreender, e nem eu espero que toda a gente compreenda. Porque nem todas sabem o que é adorar uma banda desde os dezasseis anos e esperar quase dez anos para poder vê-la ao vivo. Mesmo que saibam, podem até pensar Mas para quê vê-la ao vivo? Não basta apenas adorá-la e pronto?. Não, não basta. Para mim, não basta. Mais uma vez, não espero que toda a gente compreenda. O certo é que o fiz: comprei um bilhete de avião e fui vê-los. Nunca pensei tornar-me louca a este ponto. Mas devo dizer que foi uma loucura que me fez tão bem. E que acho que são actos loucos como este que fazem a vida valer a pena e que nos proporcionam os melhores momentos de sempre.
O concerto foi absolutamente lindo. Tive medo que fosse arruinado por causa do grupinho de pessoas que estava mesmo ao meu lado - pessoal nos seus trintas ou quarentas que já estava completamente podre antes do concerto começar, a ponto de eu ter levado uma queimadura de cigarro e de ter quase a certeza de levar um banho de cerveja da cabeça aos pés. Mas, felizmente, consegui abstraír-me deste cenário triste e um tanto ou quanto desrespeitoso e aproveitar a noite da melhor forma.
De facto, foi uma das melhores noites da minha vida e um dos melhores concertos que já assisti até então. Em termos visuais, devo dizer que não foi nada por aí além - acho que nada bate o concerto dos Brit Floyd neste aspecto -, mas só o facto de ser a banda que é foi o suficiente. Diverti-me tanto, de uma forma que já estava a precisar há tanto tempo. Esqueci-me de tudo, de todos os problemas e de todas as confusões que já me andavam a massacrar a cabeça há algum tempo. Só me importava aquele momento, aquele ambiente, aquelas músicas que tanto adoro. Saltei, gritei e cantei como nunca. Foi uma noite linda, perfeita, maravilhosa, fantástica e tudo o mais que quiserem chamar, para além de ter sido cheia de surpresas. E as surpresas começaram lá para meio do concerto, com a 7 Days to the Wolves. Uma música que já não ouvia há anos - sim, anos -, que me fez pensar, nos primeiros segundos, em algo do género Mas esta é a música que estou a pensar? Meu Deus, já não ouço isto há tanto tempo! e que me deixou surpreendida comigo mesma por, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda saber o refrão de cor. The Poet and the Pendulum foi outra surpresa; é uma música que adoro e da qual não estava nada à espera; antes de conhecer Nightwish, nunca tinha ouvido uma música tão longa como esta, e foi ela que me fez passar a gostar de músicas assim, longas, com o ritmo a variar ao longo da canção, como se assistíssemos a um filme. Mas, melhor ainda - e este foi o ponto alto do concerto - foi a sequência Stargazers, Sleeping Sun e Ghost Love Score. Fiquei com as expectativas em alta quando a Floor disse algo do género Há uma canção que queremos tocar para vocês...uma canção muito antiga!, e, quando disse que era a Stargazers...bem, eu adoro o instrumental desta música. E, depois de a ouvir assim, ao vivo, naquele ambiente de festa, passei a gostar ainda mais dela. A seguir, quando veio a Sleeping Sun, não pude deixar escapar um grande Oh My God!. Isto por não estar nada, mas mesmo nada à espera dela e por ser uma das minhas músicas favoritas deles. E teve piada porque, uns dias antes, disse a um colega da faculdade - que foi comigo ao concerto - que essa era das poucas músicas cuja letra sabia de cor e que gostava imenso que a tocassem, mas que duvidava muito que o fizessem. E tocaram-na! Mas o melhor ainda estava para vir. Ghost Love Score. A minha música favorita dos Nightwish. Que eu estava mesmo certa de que não iam tocar, por ser também tão longa. Como já tinham tocado a Poet e como eu sabia que a música final seria The Greatest Show On Earth, igualmente longa, já estava a pensar que não iriam tocar três músicas com mais de dez minutos num só concerto. Mas enganei-me. E ainda bem que me enganei! Ouvir os primeiros segundos da minha música favorita fez-me logo dar um berro. Não estava mesmo a acreditar naquilo.
Saí do coliseu completamente partida, como não podia deixar de ser. Senti as pernas a doer tanto, mas isso rapidamente passou quando comecei a andar para a saída. Passou, mas para dar lugar a uma dor descomunal no fundo das costas. Parecia uma aleijada a andar na rua. É o que me acontece sempre. Mas nem por sombras ia ver um concerto destes sentada só para não sentir as dores no final. É uma das minhas bandas favoritas, era um concerto do qual estava à espera há anos e as dores até valem a pena. No momento, só queria deitar-me na cama. Mas, olhando para trás, sim, valeram mesmo a pena. São só umas dorzinhas, afinal. E, para além disso, mesmo andando na rua como uma aleijada, com as costas a doer tanto, a sentir-me cansadíssima e a querer apenas deitar-me e adormecer, sentia o coração tão cheio, a transbordar de alegria. Foram umas duas horas lindas, mágicas, inesquecíveis. Deixaram-me tão feliz e deram-me memórias que vou conservar para sempre e das quais irei lembrar-me com um grande carinho e, como não podia deixar de ser, com uma grande nostalgia. Ter ido dos Açores para Lisboa ver o concerto foi um acto louco, sim. Mas um acto louco que valeu a pena. Porque são destes actos loucos que precisamos de vez em quando.

Setlist:
Shudder Before the Beautiful
Yours Is an Empty Hope
Bless the Child
Storytime
My Walden
Élan
Weak Fantasy
7 Days to the Wolves
The Siren
The Poet and the Pendulum
I Want My Tears Back
Nemo
Stargazers
Sleeping Sun
Ghost Love Score
Last Ride of the Day
The Greatest Show on Earth

13/09/2016

Não, ainda não morri

Não me esqueci que tenho um blog. Mas a vontade de cá vir tem sido mesmo pouca. Para além de andar com imensa coisa em que pensar, este Verão acabou por trazer programas tão apelativos e inesperados que me fizeram ficar longe do computador durante, praticamente, todos os dias - e devo dizer que passar várias horas, no estágio, a olhar para o computador retira-me por completo a vontade de voltar a olhar para ele quando chego a casa. No entanto, às vezes penso em voltar. Em dizer como as coisas estão melhores desde a última publicação que aqui escrevi - a sério, parece que, quem aqui chega, pensa que ainda ando naquela fase meia deprimente quando isso já não é verdade. E, para além disso, penso em vir falar de coisas boas. Por exemplo, sobre o maravilhoso primeiro livro de Patrick Rothfuss que terminei há umas semanas atrás ou sobre o lindo concerto dos Nightwish da semana passada que me deixou de coração cheio. Espero, daqui a uns dias, ter a mesma vontade e a mesma alegria de outrora de vir aqui escrever. Por agora, só queria dizer que não me esqueci deste cantinho e que não o abandonarei tão cedo. Bem, pelo menos não o abandonarei sem uma palavra.

29/07/2016

...e chegámos a isto

Estava entusiasmada no início do estágio. Por alguma razão, comecei a esmorecer ao longo do caminho. E, agora, é ver-me quase a arrastar-me pelos cantos. Começando logo de manhã, mal saio da cama. Fico a ansiar pela hora de sair assim que atravesso a porta de casa e entro no carro. Se não tenho coisas para fazer, queixo-me por estar a perder tempo; se tenho, não tenho vontade de trabalhar. Em qualquer um dos casos, estou sempre ansiosa por sair. Estou a tornar-me no tipo de pessoa que eu temia tornar-me; naquilo que tanta gente é. Uma frustrada no que toca ao trabalho, que parece que só está ali porque assim tem que ser e que está sempre inquieta pela hora de sair e pelo fim-de-semana.
Não sei ao certo por que isto ficou assim. Talvez por achar que devia estar a fazer algo melhor, mais útil, mais "grandioso". Ou, talvez, porque a rotina já se instalou. Tenho tendência a fartar-me das coisas quando se torna tudo igual, todos os dias. Pergunto-me, por isso, como será quando trabalhar a sério. Estarei entusiasmada nas primeiras semanas por ser algo de novo e, depois, já estarei farta e a desejar algum outro trabalho, noutro lugar. Por isso, o bom seria saltitar de sítio em sítio, de projecto em projecto. Por enquanto, é nisto que ando, já que o estágio acabará por chegar ao fim e, depois, lá encontrarei outra coisa. Mas, depois nisso, não sei como será. Não sei como raio aguentarei um emprego durante meses ou anos se me farto das coisas tão rapidamente quando se estabelece uma rotina.
Não estou feliz com isto. Não estou mesmo. Mas nem sei se alguém será feliz com o trabalho que tem. Se houver alguém assim, invejo-o de morte. Salva-se o facto de hoje ser sexta-feira, de eu poder passar o serão a ver Reign e de os Epica terem lançado uma música nova. Haja algo que me anime.

27/07/2016

Facto #43

Fotografia minha.
Este Verão nem sabe a Verão. E eu sei porquê. Não é por causa do tempo - contam-se pelos dedos os "dias de Verão" que têm feito aqui -, embora isso também esteja a contribuir. Mas não é esta a principal razão. É por não estar de férias. E por nem sequer vir a ter férias. Estou ao abrigo de um programa de estágios que só dá direito a férias depois de não sei quantos meses de estágio. Salvam-se os diazinhos de folga que já tive e uns outros que ainda vou ter. Se não fosse isso, já tinha enlouquecido.

23/07/2016

Desafio #19 - The Music

*Nightwish* nomeou-me para este desafio, e, como desafios acerca de música são sempre bem-vindos, aceitei logo. Obrigada!

Regras:
- Lista as primeiras dez músicas que te saírem em modo aleatório (nada de saltar músicas!).
- Depois, escreve a tua parte favorita da letra (ou verso) de cada uma.
- Nomeia outras pessoas.

E estas foram as músicas que me saíram:

1. Deadlock - Altruism
(Manifesto, 2008)
What have we done, where do we want to go?
The city sleeps forever
It slithers away as we speak
And we tell ourselves to deny it

2. Epica - Design Your Universe (A New Age Dawns - part VI)
(Design Your Universe, 2009)
So many people are full of hate,
While love and light are in their reach.
So many people will harm themselves,
But life can be so beautiful.

So many people will idolize,
While their own success is in their reach.
Don't forget you're able to
Design your own universe.

3. Evanescence - My Immortal
(Fallen, 2003)
There's just too much that time cannot erase

4. Hinder - Better Than Me
(Extreme Behaviour, 2005)
I told myself I won't miss you
But I remembered
What it feels like beside you

5. Lacuna Coil - Entwined
(Comalies, 2002)
I wonder
how can I live on and on
when you want to live in a hurry

6. Lunatica - Fable Of Dreams
(Fables & Dreams, 2004)
Sometimes in heaven a fable is born
Nobody knows where it comes from
It gives us strength and it tells us of love
And everyone of us is touched in their hearts
It may enrich us or pull us down so far
But life is not always black and white

7. Three - Serpents in Disguise
(The End is Begun, 2007)
Have you come to die
Or have you come to learn?

8. Saosin - It's Far Better To Learn
(Saosin, 2006)

What is my body worth?
Was there a price-tag before?
There's something greater then

What is my body worth?
Was there a price-tag before?
It's not gonna change you

9. Blackfield - Summer
(Blackfield, 2004)
Heart needs a home
It's a dark and empty road when you're alone

10. Nightwish - The Riddler
(Oceanborn, 1998)
Make me wonder what's the meaning of life
What's the use to be born and then die

Meu deus...já não ouvia algumas destas músicas há anos! Senti-me de volta à adolescência por uns minutos...
Gostei mesmo muito de fazer este desafio, especialmente por causa desta nostalgia que lhe está associada... :)
Não vou nomear ninguém em específico, mas passo o desafio a todos aqueles que adoram música e que gostam de ler e de admirar letras tanto ou mais do que eu.