07/05/2015

Escrito por mim #2

Começando a sentir uma súbita pontinha de desespero, Razz olhou para os lados, para cima e para baixo. Não conseguia distinguir o que quer que fosse; era tudo opaco e de cor clara, como se estivesse presa numa pequena caixa de vidro e gelo. A sua suspeita confirmou-se quando, ao esticar os braços em todas as direcções, na esperança vã de encontrar algum caminho, sentia sempre aquela superfície impenetrável sob as mãos. Subitamente, começou a ter dificuldade em respirar por não ter possibilidade de se mexer naquele espaço. Sentiu uma gota de suor a emergir da sua testa, que depois lhe escorreu lentamente ao longo do rosto, enquanto o coração mantinha o seu ritmo alarmado, tornando-se no único som que Razz era capaz de ouvir naquele vazio.
Retornou às suas inúteis tentativas de socar e pontapear as paredes de vidro que a cercavam. Ver o seu corpo repleto de pontos cintilantes deixou-a enervada, devido à velocidade com que piscavam e ao facto de não pararem por um segundo. Suspirou, gritou com os dentes cerrados, atirou-se com toda a sua força contra as paredes. Mordeu o lábio, teve vontade de arrancar os cabelos e aquela camada de escamas brilhantes que lhe cobria o corpo, quis ver algum sangue a escorrer-lhe das mãos de tanto bater nas paredes de vidro; queria somente sentir alguma coisa para ter a certeza de que continuava a existir. No entanto, a cada nova tentativa, o seu desespero só aumentava, agitando-se no seu interior como o centro de uma furiosa tempestade. Sentiu-se fraca e impotente, uma pequena alma frágil que fora sugada por uma força malévola para aquele espaço entre dois mundos.
Completamente desnorteada, dominada pelo desespero, Razz começou a andar em círculos, a tactear tudo, futilmente, em seu redor e a olhar em todas as direcções. Sentia-se à beira de um abismo de loucura, para o qual caminhava cada vez mais sempre que pensava na hipótese de vir a ser uma alma perdida, naquela prisão de vidro, para toda a eternidade. Contudo, ao olhar para o próprio corpo pela enésima vez, para as irritantes lantejoulas que brilhavam incansavelmente, notou uma saliência no bolso da bata.
De olhos arregalados, tirou o pequeno comando que lhe fora dado e carregou no botão vermelho. Ao ver que tudo se mantinha da mesma forma, carregou outra vez, e mais outra, e todas as que lhe foram possíveis, de um modo cada vez mais rápido e violento, tal era a sua urgência. O ar tornara-se demasiado pesado, turvando-lhe o pensamento e o raciocínio e dificultando-lhe, cada vez mais, a respiração. Cada novo suspiro doloroso parecia-lhe ser mais um passo em direcção ao abismo.
A raiva que depositava no comando a cada novo toque acabou por se esgotar, levando-a a atirá-lo para o chão com toda a força que tinha. Acabou por se encostar à parede de onde viera, ao mesmo tempo que deixava escapar os seus últimos suspiros. Fechou os olhos, pronta a render-se à atmosfera tóxica que se abatia sobre a prisão claustrofóbica.

4 comentários:

  1. Tu tens tanto jeitoooo :o
    Quero saber mais :)

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  2. Até eu fiquei aflita ao ler este texto...Eu sofro de claustrofobia e imaginar esta situação até me fez sentir nervosa :o

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  3. Demorei a comentar porque queria ler o texto calmamente, coisa que raramente consigo! Odeio sentir-me presa, e também fiquei um bocadinho aflita de me imaginar naquela situação (mas quem não sentiria?). Vais publicar mais ? Fiquei curiosa com o resto da história! Ainda não te mandei o e-mail, vou enviar de seguida :)

    R: Acho que fazes muito bem em sair daqui a rebolar ahaha Podes ir também à Amorefrato, que tem coisas deliciosas como por exemplo gelado de twix, cerelac, nestum :p É ao lado da FNAC de Sta Catarina. Não sei se chegaste a ir à Real Hamburgueria, mas se nunca foste deves ir! Se me lembrar de mais sítios vou colocando aqui :p

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