Começando
a sentir uma súbita pontinha de desespero, Razz olhou para os lados, para cima
e para baixo. Não conseguia distinguir o que quer que fosse; era tudo opaco e
de cor clara, como se estivesse presa numa pequena caixa de vidro e gelo. A sua
suspeita confirmou-se quando, ao esticar os braços em todas as direcções, na
esperança vã de encontrar algum caminho, sentia sempre aquela superfície
impenetrável sob as mãos. Subitamente, começou a ter dificuldade em respirar
por não ter possibilidade de se mexer naquele espaço. Sentiu uma gota de suor a
emergir da sua testa, que depois lhe escorreu lentamente ao longo do rosto,
enquanto o coração mantinha o seu ritmo alarmado, tornando-se no único som que
Razz era capaz de ouvir naquele vazio.
Retornou
às suas inúteis tentativas de socar e pontapear as paredes de vidro que a
cercavam. Ver o seu corpo repleto de pontos cintilantes deixou-a enervada,
devido à velocidade com que piscavam e ao facto de não pararem por um segundo.
Suspirou, gritou com os dentes cerrados, atirou-se com toda a sua força contra
as paredes. Mordeu o lábio, teve vontade de arrancar os cabelos e aquela camada
de escamas brilhantes que lhe cobria o corpo, quis ver algum sangue a
escorrer-lhe das mãos de tanto bater nas paredes de vidro; queria somente
sentir alguma coisa para ter a certeza de que continuava a existir. No entanto,
a cada nova tentativa, o seu desespero só aumentava, agitando-se no seu
interior como o centro de uma furiosa tempestade. Sentiu-se fraca e impotente,
uma pequena alma frágil que fora sugada por uma força malévola para aquele
espaço entre dois mundos.
Completamente desnorteada, dominada
pelo desespero, Razz começou a andar em círculos, a tactear tudo, futilmente,
em seu redor e a olhar em todas as direcções. Sentia-se à beira de um abismo de
loucura, para o qual caminhava cada vez mais sempre que pensava na hipótese de
vir a ser uma alma perdida, naquela prisão de vidro, para toda a eternidade.
Contudo, ao olhar para o próprio corpo pela enésima vez, para as irritantes
lantejoulas que brilhavam incansavelmente, notou uma saliência no bolso da
bata.
De olhos arregalados, tirou o
pequeno comando que lhe fora dado e carregou no botão vermelho. Ao ver que tudo
se mantinha da mesma forma, carregou outra vez, e mais outra, e todas as que
lhe foram possíveis, de um modo cada vez mais rápido e violento, tal era a sua
urgência. O ar tornara-se demasiado pesado, turvando-lhe o pensamento e o
raciocínio e dificultando-lhe, cada vez mais, a respiração. Cada novo suspiro
doloroso parecia-lhe ser mais um passo em direcção ao abismo.
A raiva que depositava no comando a
cada novo toque acabou por se esgotar, levando-a a atirá-lo para o chão com toda
a força que tinha. Acabou por se encostar à parede de onde viera, ao mesmo
tempo que deixava escapar os seus últimos suspiros. Fechou os olhos, pronta a
render-se à atmosfera tóxica que se abatia sobre a prisão claustrofóbica.
Woah. Adorei. Quero mais!
ResponderEliminarTu tens tanto jeitoooo :o
ResponderEliminarQuero saber mais :)
Até eu fiquei aflita ao ler este texto...Eu sofro de claustrofobia e imaginar esta situação até me fez sentir nervosa :o
ResponderEliminarDemorei a comentar porque queria ler o texto calmamente, coisa que raramente consigo! Odeio sentir-me presa, e também fiquei um bocadinho aflita de me imaginar naquela situação (mas quem não sentiria?). Vais publicar mais ? Fiquei curiosa com o resto da história! Ainda não te mandei o e-mail, vou enviar de seguida :)
ResponderEliminarR: Acho que fazes muito bem em sair daqui a rebolar ahaha Podes ir também à Amorefrato, que tem coisas deliciosas como por exemplo gelado de twix, cerelac, nestum :p É ao lado da FNAC de Sta Catarina. Não sei se chegaste a ir à Real Hamburgueria, mas se nunca foste deves ir! Se me lembrar de mais sítios vou colocando aqui :p