30/03/2014

Queimada Viva - Souad

Imagina um lugar onde as mulheres são totalmente desvalorizadas e desrespeitadas, tratadas abaixo de animais. Vistas como uma espécie de lixo, podem ser eliminadas a qualquer altura e por qualquer razão sem a menor piedade, mesmo na altura do seu nascimento, caso não sejam desejadas pela família. Não têm o mesmo direito à educação que o sexo masculino, levando uma vida de escravas. São obrigadas a casar com quem a família entender, não havendo lugar para o amor. Não podem andar na rua sozinhas, mas sim somente na companhia de um homem, tendo, de qualquer modo, de caminhar de olhos postos no chão, sem sapatos que produzam qualquer tipo de ruído a cada passo.
Não precisas de imaginar. Por mais incrível que possa parecer, lugares como este existem mesmo. Um deles é a Cisjordânia, onde se desenrola a acção de Queimada Viva, um relato verídico capaz de arrepiar e de nos deixar com uma certa revolta devido a tamanha desigualdade. E ainda, no que diz respeito a nós, mulheres, consegue fazer com que nos sintamos gratas por não vivermos numa sociedade semelhante.
Aos dezassete anos, Souad apaixonou-se e engravidou, o que é considerado um crime de honra. De forma a lavar a honra da família, os próprios pais encomendam a morte da filha, pedindo a um cunhado que execute a sentença: regá-la com gasolina e atear-lhe fogo. Souad, contudo, sobreviveu milagrosamente, e, chegada à meia-idade, decide escrever o seu testemunho, apelando contra o silêncio das mulheres que sofrem com estas mesmas práticas e com a esperança de ajudar a parar tais massacres. 
Para além da sua história, Souad traz-nos o retrato de uma sociedade machista e com uma mentalidade retrógrada, que muitos de nós não achariam possível existir nos dias de hoje. Um livro forte, escrito de forma simplista, mas, ao mesmo tempo, recheado de pormenores que tornam tudo mais chocante e aterrador, de tal forma que chega a ser difícil acreditar que as pessoas que conhecemos e aquelas que nos são descritas façam, realmente, parte do mesmo mundo, ou até da mesma espécie. Um livro que, infelizmente, só existe porque a história que nos conta aconteceu realmente, apesar de custar a crer. Souad é uma sobrevivente, um exemplo de força e coragem que nos ensina que a vida é algo pelo qual vale sempre a pena lutar, pois nunca sabemos o que ainda terá guardado para nós.

Li este livro há uma meia dúzia de anos, mas escolhi-o como sugestão do mês de Março para a rubrica Blogger. Para além de merecer ser lido, fui "desafiada" a sugerir livros de diferentes géneros e, olha, Março é o mês da mulher, o que não deixa de ser uma coincidência engraçada. Como tive que escrever esta opinião para a rubrica, achei que podia também publicá-la aqui.

4 comentários:

  1. Já li e foi sem dúvida um livro que me marcou imenso !

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  2. Sempre quis ler esse livro, tenho de o arranjar!
    R: A operação, em principio, é só em Agosto, mas claro que depois digo qualquer coisa :D

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  3. ~ Eu já estou habituada que as pessoas mudem ou afastem-se mas dela não esperava isto.~

    Sempre quis ler esse livro n.n

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  4. Tenho este livro aqui em casa mas por ser uma história tão forte nunca o consegui ler.
    Mas ainda no sábado estava a falar da sorte que temos (mulheres) em ter nascido em Portugal. Nem quero imaginar o que é nascer em paises destes.

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