19/03/2014

Do dia do pai


Eu podia vir aqui escrever um texto todo sentimentalista sobre o meu pai e dizer, no fim, que é o melhor pai do mundo. Mas não o posso fazer, pois o meu pai está longe de ser o melhor. O meu pai sempre foi ausente, casado com o trabalho, chegando a haver dias em que nem sequer o via. Ausência esta que começou a ser cada vez mais frequente, a partir do momento em que passou a viajar em trabalho aos fins-de-semana, o que acabou por me deixar habituada ao facto de ele raramente estar por perto. O meu pai praticamente não me conhece, e, com ele, não tenho a mesma confiança e à-vontade que tenho com a minha mãe. O meu pai é uma pessoa com a qual não dá para contar, e depois quer que eu esteja sempre disponível para qualquer coisa. O meu pai parece que só se apercebeu que eu existia quando saiu de casa - "convenientemente", quando eu já estava crescidinha -, e parece agora achar que pode recuperar o tempo perdido. O meu pai parece esquecer-se que, embora eu viva com a minha mãe, não é só ela que tem que fazer tudo por mim - não tem que ser sempre ela a pagar todas as consultas às quais eu tenha que ir, não tem que ser apenas ela a pagar a renda do apartamento da cidade académica e a dar-me dinheiro para eu poder comer, nem tão-pouco devia ser ela a pagar as minhas propinas e as viagens de avião na íntegra, que antes eram a dividir pelos dois, mas que, de há uns tempos para cá e por um motivo que eu ainda não consegui entender, tem sido assim. E, apesar disso, está sempre pronto a ligar-me a mim ou à minha irmã para irmos comer fora. Parece que é apenas para isso que nos sabe telefonar, como se não tivesse grande responsabilidade sobre nós.
O pior de tudo é saber que sempre será assim. Que nunca terei uma família dita "normal", com uma figura paterna por perto, e que, mesmo quando já tiver a minha independência, terei que pensar em coisas do tipo Hoje vou estar com a minha mãe e amanhã com o meu pai, revezando-me como um objecto e sendo obrigada a estar com um em detrimento do outro, ou obrigada a cancelar determinados planos, passando sempre dois Natais diferentes e etc., em vez de apenas um, um com a família inteira. Gostava mesmo que ele tivesse sido diferente e que as coisas tivessem seguido outro rumo.

8 comentários:

  1. Permanece de cabeça erguida, querida*

    ResponderEliminar
  2. Deve ser horrível ter pais separados. E deve ser horrível um pai tratar assim uma filha. Eu no teu lugar provavelmente reagia da mesma forma, com revolta. Ou talvez até pior, não o considerava pai mas sim, apenas um conhecido.

    ResponderEliminar
  3. És tu com o teu pai e eu com a minha mãe. Não gosto nada quando tentam "recuperar o tempo perdido"... não funciona assim. Como já sou maior e vacinada sempre tenho a "sorte" de poder escolher não passar natais e afins com ela.

    Força, beijo*

    ResponderEliminar
  4. r: eu tenho alguns episódios em atraso ainda, hihi :)

    Deves ser uma rapariga muito forte. Força, e pensa que tens uma mãe que vale por duas! ;)

    ResponderEliminar
  5. Ah pois, vida de filho de pais separados é sempre assim. A minha é igual.
    Ele pode achar que estás sempre disponível mas tens de passar a dizer não quando é isso que queres. Eles só se lembram que são pais quando convém porque de resto nem parece que existimos.

    ResponderEliminar
  6. Eu costumo dar a minha roupa a algumas vizinhas que sei que aceitam de bom grado. Mas há instituições que vão buscar as coisas se a pessoa quiser. Vê se há alguma perto de ti :)

    ResponderEliminar
  7. Também não tenho uma família dita normal, o meu pai nunca sequer quis recuperar o tempo perdido, quanto menos contacto é melhor para ele... A verdade é que cresci bastante com as atitudes dele, e agora sei que vou tentar ao máximo que os meus filhos (quando os tiver) não passem pelo mesmo :|

    ResponderEliminar
  8. Pois, não deve ser nada fácil. Tens que pensar que essa experiência te fez crescer e que, apesar de tudo, são os pais que tens. Tenta tirar o melhor partido disso \:

    ResponderEliminar