Não sei o que deu de repente à minha mãe para começar a dizer-me que eu devia tirar um mestrado.
Estou, neste momento, no terceiro ano de uma licenciatura de quatro anos, e nunca pus a hipótese de ir para mestrado a seguir. Simplesmente por não ter vontade.
Já quando estava no secundário, nunca houve aquela enorme vontade de ir para a universidade. Há imensa gente - até quem está a ler isto pode, muito provavelmente, fazer parte deste grupo - que diz/dizia que adorava ir para a universidade tirar determinado curso e tal, mas eu, que, até, sempre fui das melhores alunas de todas as minhas turmas, nunca tive esse desejo. Meti-me na universidade "porque sim", porque era assim que devia ser, porque, depois da escola, vai-se para a universidade e não se fala mais nisso.
Depois da universidade, vem o emprego, e, se antes achava que isto seria uma dor de cabeça e o fim da boa vida, nos últimos tempos tenho vindo a achar o contrário. Estar a trabalhar é que me parece ser "a boa vida". É que só o facto de não ter que ouvir palestras - a.k.a. aulas - e de não ter que estudar dias a fio para os malditos exames é simplesmente maravilhoso. Libertador.
Por isso, cada vez mais vejo-me inquieta por acabar de estudar, arranjar um emprego, começar a ganhar o meu dinheiro e ser, finalmente, independente.
Mas os meus familiares parecem decididos a arruinar a minha fantasia. Por causa do raio do mestrado.
E dizem Mas são só mais dois anos a estudar. Falar é muito fácil, quando não são eles que passam pela situação. Cada ano traz consigo as infernais épocas de exames, as "férias" de Natal mais horríveis de sempre, passadas quase inteiramente a estudar de pijama enquanto toda a gente está feliz e relaxada por ser Natal, os fins-de-semana desperdiçados à volta de estudo e/ou de trabalhos, enfim. A vida de um estudante pode ser considerada boa porque tem imensos períodos de férias, mas é só isto. De resto, é uma treta. Ainda para mais, ouço dizer que os mestrados têm muitos trabalhos de investigação, e eu, para isso, tenho pouca ou nenhuma paciência.
Encaminharam-me para a universidade porque assim teve que ser, não por inteira vontade minha. Agora, querem manter-me presa na universidade porque também assim tem que ser. Quer dizer, parece que querem que passe a vida a fazer aquilo que eles querem.
Para além de que um mestrado, na minha opinião, é mais útil para quem gosta mesmo da coisa, para quem é tipo apaixonado pela coisa e só quer saber mais e mais sobre aquilo. Eu nem sequer entrei na minha primeira opção, e, mesmo que isto tenha o seu quê de interessante, acho que seria preciso um milagre ou fazer um estágio do qual venha a gostar mesmo, mesmo, meeeesmo muito para depois dizer Sim! Eu adoro isto e quero adquirir todos os conhecimentos que puder sobre isto!.
Não estou interessada num mestrado por um motivo muito simples: estou f-a-r-t-a de estudar. Já lá vão muitos anos nisto, e acho que já chega. Quero poder ser independente e passar algum tempo de qualidade sem pensar que tenho que estudar ou fazer um trabalho, ao invés de ver o tempo a passar e ver-me sem nada meu - sem dinheiro meu e sem uma casa minha, por exemplo. Sempre considerei que os vintes fossem uma espécie de auge na vida humana, e desperdiçar este auge com a universidade parece-me terrivelmente errado.
Não me parece que tudo isto seja difícil de entender, mas ninguém percebe. Para além do argumento do Mas são só mais dois anos a estudar, a minha mãe ainda acha que eu não quero fazer o mestrado para poder acabar a licenciatura ao mesmo tempo que o meu namorado acaba o seu mestrado. Quando, na verdade, isto nem sequer se coloca. Quer dizer, nós até já estamos habituados a estar longe um do outro durante os tempos de aulas... E, quando lhe digo que não é nada disso, ela, simplesmente, não acredita em mim. Vai-se lá perceber porquê, a minha mãe não acredita no que lhe digo. Eu percebo que ela esteja a fazer o seu papel de me tentar orientar e dizer o que é melhor, mas, às vezes, o melhor para uma pessoa não é aquilo que seria melhor para as outras.