21/01/2014

Crescer


Por vezes sinto que parei no tempo. Ainda me sinto como se tivesse uns dezassete anos, talvez porque os dezassete, para mim, foram a idade, ou, pelo menos, uma das idades que mais gostei de ter. Por causa disso, sinto-me sempre como se fosse demasiado nova para certas coisas, apesar de, na verdade, não o ser. Não me imagino a trabalhar, por exemplo. Não me imagino a casar-me. Até acho que ainda sou nova para maquilhagem e saltos-altos, talvez por serem coisas que não me atraem e que nada têm a ver comigo.
Mas sempre foi assim: sempre senti que era nova demais para determinadas coisas, coisas que a maioria das pessoas da minha idade fazia com toda a naturalidade. Aos quinze anos, idade em que muita gente já tinha os seus namoricos, achava-me nova para isso e não queria saber de rapazes para nada. Aos onze, quando parecia que toda a gente já tinha arrumado os seus brinquedos para sempre, eu ainda usava os meus. E, com isto, lembro-me de uma situação que aconteceu na minha turma da altura.
Estávamos numa daquelas aulas mortas de final do período em que já não havia mais matéria para dar, quando a professora, para matar o tempo, perguntou-nos o que queríamos receber pelo Natal. E disse: Não tenham vergonha de dizer brinquedos. Acho muito bem que ainda brinquem. Eu, que, de facto, tinha pedido alguns pelo Natal, não disse que os queria. Nenhum colega o disse, fazendo-me pensar que já tinham ultrapassado a fase de serem crianças e que já não ligavam a isso. Por isso, fiquei calada em relação a isso, pois, caso contrário, isto constituiria mais um motivo para me gozarem depois.
Foi nessa altura que constatei o óbvio: tinha que crescer. E o primeiro passo parecia ser deixar os meus brinquedos ir, seguir em frente. Ninguém sabe o quanto isto me custou. Pensava sempre Mas o que é que vou fazer nos tempos livres, se não brincar?. Lá acabei por arranjar outras actividades, mas foi duro. Foi duro deixar todos os meus brinquedos ao abandono, e era igualmente duro ouvir a minha irmã queixar-se à minha mãe por eu já não querer brincar com ela.
Crescer é duro, e cada vez gosto menos disto. Nunca tive a ânsia de crescer ou a de alcançar os dezoito anos, como muita gente. Adorava passar o tempo a brincar, a jogar consola, a pintar livros de colorir e a escrever historinhas. Via os adultos a saír para o trabalho e sentia alguma pena deles. Coitados, sempre a trabalhar.
As coisas, comigo, parecem acontecer sempre mais tarde do que o suposto por causa disso: acho sempre que ainda sou mais nova do que aquilo que sou realmente, que ainda não tenho idade para certas coisas quando, na verdade, sim, já a tenho, e que vou ter muito tempo para determinadas coisas. Mais uma vez, o exemplo da maquilhagem e dos saltos-altos: a idade adulta é tão longa, que me proporcionará tempo demais para me aventurar nestes assuntos. Por enquanto, deixem-me andar ao natural, com as minhas botas rasas ou com uns ténis enquanto ainda posso. Mas quem me dera andar sempre assim. Não tenho pressa absolutamente nenhuma de crescer. De "ser uma adulta". Detesto que digam que uma pessoa é adulta a partir dos dezoito anos ou dos vinte ou de lá quando é que é. Por favor, pessoas...eu sou uma jovem. E espero sê-lo durante muito, muito tempo.

10 comentários:

  1. as pessoas, sempre as pessoas a dizerem quando é que alguém deixa de ser uma coisa para passar a ser outra...

    acho que o "passar a adulto" tem mais a ver com a mentalidade da pessoa do que com aquilo que ela faz ou fazia... muitas pessoas largaram os seus brinquedos de crianças e continuam com atitudes infantis, o que acaba por as colocar no mesmo patamar das crianças...

    acima de tudo há que se tomar consciência das responsabilidades, dos prazos, coisas que antes não existiam para nós enquanto éramos crianças mas que agora são uma constante nas nossas vidas...

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  2. Identifico-me muito. Não uso maquilhagem nem saltos altos. Tenho esse espírito também :)

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  3. Crescer faz parte, não precisas de ter receio :)

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  4. Qdo era pequena queria crescer ou voltar a ser bebé. Ambas pelo mesmo motivo: os meus pais não me podiam castigar por fazer coisas mal! Agora que estou a chegar à parte de ser adulta, podem castigar-me na mesma e as responsabilidades já começam a pesar de forma diferente. Mas se voltasse a ser bebé, teria de passar por isto tudo de novo, so fuck it. Vou viver no agora, sem pensar que é obrigatório crescer. Isso vem e há que aprender a viver com isso, mas não como uma obrigação terrível. Como dizes, ainda és jovem e ser jovem é mais uma questão de mentalidade e atitude do que de idade... :)

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  5. Tenho 21 e sinto-me uma criança. Tal como tu acho-me muito nova para coisas que pessoas da minha idade já fazem. Só deixei as minhas barbies aos 12 anos. Mas anos depois brincava com a minha irmã com todo o gosto :p
    Eu não me importo de ser assim, gosto de ter maturidade mas ainda ser criança em alguns aspetos.

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  6. Sou maior de idade e a minha chama-me infantil, porque, às vezes, gosto de ter atitudes de criança e brincar pela casa sem preocupar-me com mais nada.
    Mas gosto de crescer, quer dizer, não me incomoda. Todavia, tenho o receio do que possa acontecer no futuro. Sou uma pessoa que pensa demasiado e a incógnita, o não saber o que vem a seguir.. bom, dá comigo em louca,

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  7. Podes ser jovem toda a vida! :) Ninguém te vai obrigar a usar saltos altos, jamais! Só usarás se quiseres... E por aí fora :) Quanto a cresceres... bem, sim, há um momento no qual deixamos de brincar com bonecas e às casinhas, para termos a nossa própria casa. Arranjar um emprego, casar, etc, pode ser assustador, mas faz parte da vida.. e gostarás de entrar nessa nova fase, quando estiveres preparada :) [diz a rapariga que era IGUALZINHA a ti para se tornar em alguém que adora ter um emprego e que usa saltos altos e maquilhagem.. por opção :) ]

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  8. Eu tenho 19 e as vezes sinto-me tão mais nova... não me imagino em muitas coisas que para gente da minha idade é normal... mas para outras sou tão adulta, demasiado preocupada e responsavel... é um misto.

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  9. Tenho acompanhado o teu blog à algum tempo (meio ano, talvez) e, apesar de nunca comentar, identifiquei-me com muitos dos teus textos e, atrevo-me a dizer, com algumas das tuas características.
    Este texto, em especial, marcou-me não só pela beleza com que é escrito, mas pelo que transmite. Tal como tu, mete-me alguma impressão pensar nisto da idade, da responsabilidade, de tudo o que nos é incutido por causa da idade. Tal como tu, sempre demorei um pouco mais a adaptar-me aquilo que vão exigindo. Há coisas que não consigo mudar só porque a idade assim o obriga.
    Gostei realmente deste texto!
    Um beijinho

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