Desenho da minha autoria.
Olhar para o espelho e só ver defeitos em mim mesma. Lembrar-me apenas de momentos maus do passado e de más escolhas. Ver um futuro completamente negro. Disseram-me que estes eram sinais de início de uma depressão. E ouvir estas palavras em voz alta só me deu vontade de chorar. Chorar por não fazer ideia de como cheguei a este ponto, o de bater quase no fundo do poço e de não saber como regressar à tona. E chorar por sempre ter pensado que isto era algo que só acontecia aos outros.
Já dura há uns meses e é, provavelmente, a pior sensação de que tenho memória. Existem altos e baixos. Dias normais, em que me sinto bem, animada e bem-disposta; dias em que sou eu mesma, portanto. E dias em que estou no extremo oposto - dias em que me sinto de rastos. Por vezes, um dia começa bem ou de uma forma normal. Mas, a certa altura, um pensamento, uma conversa ou o próprio ambiente que me rodeia faz-me escorregar e cair para dentro do poço. E começo a cair cada vez mais, até os pensamentos negros tomarem conta de mim. É algo que surge do nada e que pode durar horas ou dias. Depois, de repente e sem qualquer explicação, encontro o caminho de novo para a superfície do poço e lá estou eu outra vez, de bem com a vida. Mas sempre com a consciência de que vou escorregar de novo, mais cedo ou mais tarde. Assim é desde há uns meses atrás: altos e baixos contantes. Tem sido impossível passar mais de uma semana sem pelo menos um dia mau. Uma semana foi, aliás, o meu recorde. Eles voltam sempre. E parece que este é um ciclo que nunca irá terminar.
Num dia mau, choro que me farto durante horas. Graças a isso, fico sem fome, fico cansada, dói-me a cabeça, choro até adormecer e, mesmo assim, acordo a meio da noite e mantenho-me acordada por demasiado tempo. Num dia mau, só quero estar sozinha, enroscar-me e chorar. E, nesses momentos, das duas, uma: ou quero que o tempo páre, ou quero adormecer para que o dia seguinte chegue, e isto para que possa sair de casa novamente e para me manter ocupada. Nesses momentos, outra das coisas que acontece é surgir um turbilhão dos mais variados pensamentos.
O último lugar em que quero estar depois de sair do trabalho é a minha própria casa. A minha própria família irrita-me. Irritam-me os sons, as vozes e as rotinas que existem na minha própria casa; é como se não me sentisse bem nela e preferisse estar num sítio só meu. Sair com a minha mãe faz-me sentir sozinha e como que uma falhada. Sinto-me frustrada por causa do curso que tirei e por causa da Ordem. Dou por mim a detestar o meu trabalho, a arrastar-me no meu local de trabalho e a ser irritadiça com todos os meus colegas. Por outro lado, parece que me sinto melhor no meu local de trabalho do que em casa. Apodera-se de mim uma enorme vontade de fugir, de desaparecer deste lugar e de nunca mais voltar. Deve ser por isso que só me sinto mais animada quando não estou em casa ou quando penso nas viagens que vou fazer este ano. Sinto-me uma completa inútil quando chega o fim-de-semana e quando não tenho planos. Sinto-me sem objectivos, e isto porque parece que tudo deixou de me interessar. Num dia mau, é tudo tão feio e tão triste, que nada parece fazer sentido. Sinto-me demasiado sozinha. Sinto que não tenho ninguém e que nunca vou encontrar alguém que goste realmente de mim. Sinto que ninguém se preocupa e que ninguém gosta de mim, apesar de me serem dadas provas do contrário, muitas das quais eu mal acredito, talvez por me sentir uma pessoa horrível. Sinto que só faço porcaria e que não valho nada. Sinto que não sou indispensável para ninguém e que não faria falta a ninguém se desaparecesse. Num dia mau, só vejo o tempo a passar enquanto estes pensamentos tomam conta de mim. Sinto que jamais serei feliz. Não tenho vontade para nada e é como se nada valesse a pena. Sinto-me perdida, sem rumo, sem quaisquer objectivos e sem nada pelo qual lutar; acho, até, que nem vale a pena lutar pelo que quer que seja. Esqueço-me de que tenho sonhos e desisto de tentar mudar a minha vida em prol da minha felicidade e do meu bem-estar. Por achar que não servirá de nada e que bastará ver os dias a passar, um de cada vez. Num dia mau, até o facto de estar sol me irrita. Uma das poucas coisas que me apetece fazer é estar com alguém e falar com alguém, sobre tudo isto ou sobre outros assuntos quaisquer que me distraiam, mas parece não existir uma única alma disposta a ouvir-me e a consolar-me, ou a perder algum do seu precioso tempo comigo. Num dia mau, apenas a música e a arte me puxam para cima. Desenhar permite-me expressar-me e acalma-me, assim como me distrai. E a música parece funcionar como um escudo que mantém os pensamentos negros à margem.
É difícil expressar isto por palavras; parece que não são suficientes. Mas assim tem sido, desde há uns meses atrás, intercalado com dias bons ou, pelo menos, melhores e normais. Pior do que saber que isto não leva a lado nenhum, é não saber como escapar. Os pensamentos negros apoderam-se de mim e deixam-me de rastos, mas, mesmo quando me deixam, mantêm-se à margem, prontos a atacar de novo a qualquer instante. E o ciclo repete-se. Por mais que me tente distrair e tente ser positiva e andar animada, eles encontram maneira de entrar e de atacar novamente. Sempre. Parece que, agora, se tornaram numa parte de mim e que nunca me irão deixar.