20/02/2017

Todos têm o seu próprio timing, certo?

Ir para a escola. Terminar o secundário. Entrar na universidade. Tirar um curso. Encontrar um emprego. Trabalhar. Sair de casa dos pais. Casar. Ter filhos. O resumo da vida. Ou melhor, o resumo daquilo a que a sociedade chama de vida e que, supostamente, toda a gente tem que seguir.
Fui para a escola e fiz o secundário sem nunca ter perdido um ano e sem nunca ter voltado atrás. Sempre com boas notas para poder entrar na universidade, apesar de não ter grande desejo em fazê-lo - simplesmente, assim tinha que ser. Tirei a carta de condução logo depois de fazer dezoito anos, não porque quis, mas porque assim tinha que ser - e também porque, honestamente, me senti pressionada a fazê-lo. Entrei na universidade logo depois de concluir o secundário, quando nem sequer sabia o que queria da vida e sem sequer me sentir preparada para tal. Coisas que se notaram quando ganhei coragem de admitir que queria desistir e voltar atrás. Voltei a entrar na universidade no ano seguinte, mas ainda sem certezas quanto àquilo que queria. Tive vontade de desistir novamente e de voltar atrás, mas não quis dar mais uma desilusão a toda a gente. Conformei-me e aguentei o curso até ao fim. Licenciei-me e comecei a procurar trabalho. Encontrei um estágio remunerado, pelo que comecei a trabalhar e a ganhar o meu próprio dinheiro. Ao mesmo tempo, mantinha uma relação de alguns anos.
Podia parecer que estava a ir bem. Isto é, que seguia os ideais da sociedade no que toca à sua versão de "vida perfeita". Podia parecer, mas as aparências enganam muito.
Como disse, não tirei um curso que me fizesse feliz e me fizesse sentir realizada. Conformei-me. Não gosto propriamente do meu trabalho, mas preciso dele. Não posso, sequer, trabalhar noutro sítio qualquer por não pertencer à Ordem da minha amada profissão. E, no que toca à relação de alguns anos, acabou por terminar. Com isto, não me conformei. Estava cansada de me conformar.
Estava, e estou. Há alturas em que me apetece largar tudo e começar de novo. Só para não ter que me conformar com o facto de ter uma profissão que não me diz nada e de viver num sítio ao qual não sinto que pertenço.
Ao mesmo tempo, sinto que fazer isso seria como voltar para trás.
Tenho quase vinte e cinco anos e este é o resumo da minha vida: tirei um curso cuja profissão não é a minha praia, estou a fazer um estágio remunerado e não posso trabalhar antes de pertencer à Ordem, estou solteira e ainda vivo com a minha mãe. E vejo todas as pessoas à minha volta, nomeadamente as da minha idade ou as que lá andam perto, com a vida encaminhada. Tiraram o curso que queriam e não tiveram que passar por mudanças de curso, trabalham, têm uma relação estável que parece irritantemente perfeita, saíram de casa dos pais ou pensam fazê-lo, casaram ou pensam em casar-se.
Por um lado, sinto-me completamente ultrapassada por toda a gente. Mas, por outro...será que todos têm que seguir aquele rumo ridículo imposto pela sociedade? E se eu não quiser? (Não quero, de todo, pois não quero ter filhos) E se eu quiser voltar atrás; e se eu tiver que bater com a cabeça contra a parede várias vezes até descobrir o que quero fazer da vida? E se só o descobrir daqui a uns tempos e isso me obrigar a voltar atrás?
Oh, já sei. Vão falar. Vão criticar. Vão mandar boquinhas. Porque não cresço. Porque não sei o que quero. Porque, com a minha idade, devia estar a fazer isto e aquilo, e não aquela outra coisa. É ridículo, mas é o que acontece.
Com tudo isto, chega-se à conclusão - chegaram por mim, melhor dizendo - que andei a viver em função dos outros. A fazer as coisas por causa da opinião dos outros, por causa daquilo que iriam pensar. Quando a vida é minha e quando, supostamente, devia fazer aquilo que quero. Mesmo que não siga o ritmo de toda a gente e mesmo que demore a chegar ao "patamar" onde todas as pessoas da minha idade se encontram agora. Devia focar-me mais em mim e pensar em mim. O problema é que nem sempre o consigo.

19/02/2017

About Valentine's

Este ano, por muito que tivesse dito a mim mesma que este dia passar-me-ia ao lado, dei por mim a lembrar-me do dia dos namorados do ano passado. Talvez por ter feito um dia de sol maravilhoso, tal como no ano passado. Lembro-me perfeitamente de como foi. E, consequentemente, lembrei-me dos anteriores. Dos filmes, dos jantares, de um em que recebi um presente-surpresa através do correio, de um outro que se resumiu a uma viagem de comboio e a um singelo jantar de pizza, do primeiro a sério e do outro antes, em que recebi duas cartinhas parvas e engraçadas. Costumava detestar este dia; depois, passei a gostar; e, passados uns aninhos, achei-o desnecessário e começou a ser-me indiferente.
Este ano, foi um dia normal. As memórias vieram à tona, mas não deixou de ser um dia normal. Não houve cartinhas, nem presentes, quanto mais um programa especial. Um dia normal, mas que não me deixou tão indiferente assim. Já me cansam as exibições de felicidade de todos os casais e mais alguns num dia normal, quanto mais no dia dos namorados. É ver toda a gente a vomitar amor e felicidade através de fotografias nesse dia em especial. Completamente desnecessário, na minha opinião. E completamente irritante, também.
Estou sozinha por opção. Foi das poucas vezes na minha vida em que tomei uma decisão a pensar em mim mesma, e não nos outros - naquilo que os outros iriam pensar, mais concretamente. Fiz o que achei que seria melhor para mim, até porque continuar a arrastar algo que, para mim, perdera o sentido não seria justo para ninguém e traria tudo excepto felicidade. Na grande maioria dos dias, sinto-me bem, de facto. Mas há dias em que me sinto sozinha. Demasiado sozinha.
Não digo que me arrependo da decisão que tomei. É apenas isso, o sentir-me sozinha. Parece que nunca estamos satisfeitos. E, com todos estes pensamentos que surgiram neste dia, dei-me conta das voltas que a vida pode dar...