Voltou a correr bem. Depois daquela fase em que me senti triste e desmotivada, ansiosa para que aquilo acabasse, voltou a correr bem assim de repente. Não sei porquê, mas ainda bem que assim foi. Acho que é o facto de ter mais coisas ou coisas novas para fazer que me dá outro ânimo - porque não suporto estar num suposto local de trabalho parada, a sentir-me uma inútil. Para além disso, o meu relatório para a Ordem está pronto e entregue - foi o relatório mais rápido que já fiz na vida -, e graças a ele tive maior noção daquilo que fiz ao longo destes meses. Notei que fiz alguma coisa, que contribuí com alguma coisa. Mais do que o próprio relatório, foi o parecer da minha orientadora que mais me ajudou a ver precisamente isso. Não estava nada à espera de um parecer daquele género e confesso que fiquei babada, com a sensação de dever cumprido - embora ainda haja muito trabalho pela frente - e de que, afinal, valho alguma coisa e fui capaz de alguma coisa.
Penso que foi por aí que as coisas voltaram a melhorar. Deixei de me arrastar para o trabalho; deixei de achar que ir para lá todos os dias era um enorme sacrifício. Até os dias e as semanas têm passado a voar. Já estou tão acostumada àquele ambiente e àquelas pessoas que vai ser tão estranho ir-me embora dali. Especialmente por causa das pessoas. Afinal, se não tivessem sido tão simpáticas, tão prestáveis e brincalhonas desde o início, a coisa não teria corrido tão bem. Fizeram sempre os possíveis para que me sentisse integrada, e isso ajudou bastante.
O meu contrato como estagiária termina no final deste mês. Há a possibilidade de ser prolongado por mais nove meses, mas nunca tive grande esperança que tal acontecesse. Tive sempre a sensação, desde o início do estágio, que só estaria ali por nove meses e que não haveria mais do que isso. Olhando para trás, acho que foram os nove meses mais rápidos da minha vida.
Sempre tive essa sensação, porque era isso que me davam a entender. Nos últimos dias, tem surgido, inesperadamente, mais trabalho para mim, da minha área, pelo que pode, até, haver uma pequena hipótese de prolongarem o meu contrato. Mas tenho quase a certeza de que vou ficar por aqui, e acho que vou manter esse pensamento para não me (des)iludir. Quase toda a gente é da opinião de que devia continuar na empresa e alguns até têm um feeling de que tal pode acontecer - não só pessoal da empresa, como também da minha família -, mas eu duvido muito. Até porque tal decisão tem que passar pelo director da dita cuja. É ele quem dá a palavra final, mesmo que a opinião geral seja manterem-me lá. E é por isso que não tenho grande esperança, porque parece que, desde o início, só precisariam de mim por nove meses e depois acabava. Como se o meu trabalho pudesse ser feito por outra pessoa qualquer, quando isso não é verdade. Ou, então, acabarão por arranjar outra estagiária para o meu lugar. Nunca se sabe.
Houve uma altura em que isso me preocupou. O sair de lá no final de Setembro e ficar desamparada de novo. Depois, houve a altura em que não queria saber, que até preferia ir-me embora no final de Setembro porque estava fartinha daquilo tudo. Agora, para ser sincera, estou preparada para o que vier. Se quiserem que continue lá, não vou dizer que não; acho que seria uma estupidez recusar trabalho, sobretudo quando não tenho um plano B. Se não quiserem, está tudo bem na mesma. Costumava dizer que ia deprimir em casa e desesperar à procura de trabalho, ao que os meus colegas diziam que ao menos podia descansar a cabeça por uns tempos e ficar como que de férias. Dito assim, até não é uma má ideia, uma vez que nem tive férias durante este Verão. E aproveitarei para me focar no exame da Ordem. E, depois disso, logo verei o que fazer. Já não temo nada. As coisas acontecerão.
O certo é que é já esta semana que vou saber "o meu destino na empresa" e já ando a ficar ansiosa.
Seja como for, e como não podia deixar de ser, aprendi muito e cresci muito neste estágio. Foi numa área da nutrição tão diferente, tão fora da minha zona de conforto que, muitas vezes, receei não estar à altura das tarefas. Mas fui-me surpreendendo a mim mesma e superando obstáculos, para, agora, sentir-me muito mais confiante e tornar-me noutra pessoa que não a miúda assustada que entrou na empresa nos primeiros dias. Levo coisas boas daqui, sim. E a melhor - que não deixa de ser a mais inesperada também - é uma amizade. Que eu tenho a certeza que durará muito tempo.