Esta semana andei mais desmotivada em relação ao estágio. Penso que devido à quebra da rotina - ao facto de ter passado a semana anterior em Lisboa, sem estar a trabalhar e sem estar, sequer, a pensar no estágio, a frequentar um seminário durante a semana e a passear aos fins-de-semana. Tive vontade de lá ficar por mais tempo e não tinha vontade alguma de voltar ao trabalho. Acho que foi tudo isto que me fez ficar mais desmotivada e farta do trabalho durante a semana que passou.
E ter noção disto fez-me pensar melhor nas coisas e levou-me a descobrir diversos pontos negativos. Quer dizer, é óbvio que já tinha dado por eles, mas limitava-me a ignorá-los. Estar desmotivada pareceu fazer com que estes pontos me saltassem à vista constantemente e me deixassem enervada e com (ainda) menos vontade de trabalhar. Não tenho grandes condições para trabalhar; tenho um escritório improvisado (demasiado improvisado) que funciona como local de passagem - ou seja, há sempre gente a andar para a frente e para trás, inlcusive (e isto é o que acho mais irritante) quando estou a dar uma das minhas pseudo-consultas -, e nem tive direito a um cacifo. Enervava-me ouvir as passadas do director geral de lá do sítio, não só por usar sapatos super barulhentos, mas também por ele próprio ser uma pessoa irritante - não gostei do homem desde o primeiro dia; parece ter a mania que sabe tudo e está sempre a mandar bitaites acerca de tudo. Chateia-me, aliás, o facto de ter um patrão e ter que fazer as coisas à maneira dele. Cada vez mais, acho que estaria mesmo bem a trabalhar por minha conta, para não ter que dar satisfações a ninguém e para não ter que estar a perguntar se aquilo que eu faço está bem para o patrão. O estágio continua a correr bem, apesar de tudo. Mas há mais duas coisas que me chateiam: o facto de questionarem a minha forma de trabalhar e o de, na maioria das vezes, me tratarem como se eu fosse uma miúda de quinze anos. Em relação ao primeiro ponto, detesto que me venham perguntar se o trabalho X já está feito e que me digam que eu devia dar maior importância ao assunto Y em vez de estar a fazer Z. Eu tenho o meu ritmo de trabalho e conheço a minha maneira de trabalhar e de me organizar. Se me dão um prazo, cumpro-o. Se me estou a organizar de determinada maneira, é porque sei que as coisas vão dar certo assim. Nem toda a gente faz as coisas da mesma forma. E, no que diz respeito ao segundo ponto, bem sei que a minha aparência não ajuda, mas não posso fazer absolutamente nada quanto a isso. É por isso que, às vezes, até me esqueço que já sou licenciada e continuo a sentir-me como uma estudante.
Nunca pensei dizer isto, mas estar em Lisboa deixou-me com uma certa nostalgia da vida de estudante. A vidinha despreocupada de não ter que dar satisfações a ninguém e de não ter que agradar aos outros. De passear e de sair de casa para ouvir e aprender. De ter o meu espacinho com as minhas coisas. Como é óbvio, não tenho saudades de estar fechada no quarto a marrar e de ficar stressada com trabalhos de grupo. Muito menos de ter que aturar colegas de casa bastante inflexíveis. Mas, do resto...
É por isso que, às vezes, passa-me pela cabeça voltar a estudar quando o estágio acabar. Adoro chegar a casa depois do trabalho e não ter que pensar em mais nada; sair do trabalho e ir à praia ou ir tomar um café mesmo que não seja sexta-feira, sem qualquer preocupação na cabeça; e, claro, adoro estar a receber algum dinheiro e de não precisar de o pedir a ninguém. Mas, sei lá. É como se faltasse qualquer coisa.
Por enquanto, há que continuar. O estágio está quase no fim e, de qualquer forma, só preciso dele para poder pertencer à Ordem. Depois disso, já poderei ter um emprego a sério, ou voltar a estudar, ou fazer sei lá o quê. Já não vou voltar a ser a estagiária, o que é óptimo. É só isso que sei. O que vou fazer a seguir, permanece uma incógnita, até porque nem sei ao certo quanto tempo mais serei a estagiária. Tudo indica que o estágio termina no final de Setembro. Foi o que me disseram logo no início e nunca me falaram em prolongá-lo - algo que o programa de estágios que o abriga permite fazer. Considero que ainda há muito trabalho a ser feito, mas não faço ideia se querem que seja eu a fazê-lo ou se preferem dar a oportunidade a outra pessoa - ou se me vão obrigar a fazê-lo até finais de Setembro, mas eu acho que isso será impossível e que será necessário mais tempo. Não sei o que vou fazer a seguir, mas uma coisa é certa: na próxima reunião com o irritante do director geral, vou ter que abordar este assunto. Preciso mesmo de saber até quando vou ficar por lá e durante quanto tempo mais vou ver algum dinheirinho a cair na minha conta. Porque vou ter que saber o que fazer da minha vida.