Não tenho dado pelos dias a passar, e até me custa a crer que já passou pouco mais de um mês desde o início do estágio. Os próprios funcionários chamam a empresa de casa de doidos e fartam-se de me dizer que vou sair de lá maluquinha. E, realmente, acontece lá cada coisa e é raríssimo o dia em que não me parto a rir por algum motivo. Se houve dias em que me queixei por falta de trabalho, rapidamente me apercebi de que há sempre qualquer coisinha que pode ser feita. Nem que seja ler artigos científicos ou documentos para me actualizar. Um dos trabalhos que estou a desenvolver agora obriga-me a levantar-me mais cedo para chegar lá mais cedo, mas isso não me custa nada. Até sabe bem conduzir numa altura em que o trânsito é pouco e em que o dia ainda mal começou. E, no fim, acabo por chegar a casa mais cedo. Uma das minhas alturas favoritas do dia é aquela a que chamam de "hora do café", em que nos juntamos todos a meio da manhã para comer qualquer coisa. Acho uma óptima iniciativa, e sabe-me bem tomar um café com leite quentinho nessa altura. Gosto quando me dão alguma coisa que estão a preparar na cozinha para provar; ainda hoje deram-me um bocadinho de um queque de chocolate e de uma panqueca. Até acabo por aprender qualquer coisa e por ter ideias para novos pratos só de andar pela cozinha. Claro que, quando chego a casa, nem quero ouvir falar em fazer comida, mas enfim.
No entanto, passar a semana toda a trabalhar, o que implica ter que me arranjar, sair de casa e passar várias horas fora, faz com que queira passar os fins-de-semana no extremo oposto: em casa, de pijamas, a fazer o que me apetece. Mas nem toda a gente o compreende, e nem consigo ter muito tempo livre. Parece que ficar em casa dá-me a volta à cabeça, principalmente porque os fins-de-semana acabaram por cair numa espécie de rotina. Já sei que os sábados são dias de pôr a roupa a lavar e há sempre almoço de família aos domingos; há sempre qualquer coisa a acontecer e pessoas à minha volta que não páram quietas um segundo. Por tudo isto, mal consigo aproveitar os fins-de-semana, e a rotina dos mesmos anda a cansar-me. O meu escasso tempo livre é aproveitado para ler um pouco ou para continuar a rever o meu livro. No que respeita a esta última, nem sequer considero uma obrigação ou uma chatice; tenho gostado de o fazer, mas ainda nem vou a meio do livro.
A rotina da casa parece deixar-me com uma tensão e um stress acumulados, e, às vezes, dou por mim de mau humor por causa disso. Por vezes, penso em como gostaria de ter uma casa só para mim, para poder criar a minha própria rotina e conseguir, assim, ter mais tempo livre, tal como tinha durante a faculdade. Mas, neste sentido, a natação tem sido uma terapia fantástica. Parece que liberto toda a tensão na piscina, e volto para casa muito mais relaxada e bem-disposta, mesmo que o dia a seguir seja novamente de trabalho e mesmo sabendo que as únicas coisas que vou fazer quando chegar a casa são jantar, secar o cabelo e ir dormir. Tem sabido mesmo bem, e fico contente por ter conseguido conciliar esta actividade com a minha "nova vida".
Apesar de tudo - de ter pouco tempo livre e de andar chateada com a rotina daqui de casa -, não tenho saudades de ser estudante. A sensação de chegar a casa, pôr o trabalho para trás das costas e só voltar a pensar nele no dia seguinte é impagável e libertadora.