Ir para a escola. Terminar o secundário. Entrar na universidade. Tirar um curso. Encontrar um emprego. Trabalhar. Sair de casa dos pais. Casar. Ter filhos. O resumo da vida. Ou melhor, o resumo daquilo a que a sociedade chama de vida e que, supostamente, toda a gente tem que seguir.
Fui para a escola e fiz o secundário sem nunca ter perdido um ano e sem nunca ter voltado atrás. Sempre com boas notas para poder entrar na universidade, apesar de não ter grande desejo em fazê-lo - simplesmente, assim tinha que ser. Tirei a carta de condução logo depois de fazer dezoito anos, não porque quis, mas porque assim tinha que ser - e também porque, honestamente, me senti pressionada a fazê-lo. Entrei na universidade logo depois de concluir o secundário, quando nem sequer sabia o que queria da vida e sem sequer me sentir preparada para tal. Coisas que se notaram quando ganhei coragem de admitir que queria desistir e voltar atrás. Voltei a entrar na universidade no ano seguinte, mas ainda sem certezas quanto àquilo que queria. Tive vontade de desistir novamente e de voltar atrás, mas não quis dar mais uma desilusão a toda a gente. Conformei-me e aguentei o curso até ao fim. Licenciei-me e comecei a procurar trabalho. Encontrei um estágio remunerado, pelo que comecei a trabalhar e a ganhar o meu próprio dinheiro. Ao mesmo tempo, mantinha uma relação de alguns anos.
Podia parecer que estava a ir bem. Isto é, que seguia os ideais da sociedade no que toca à sua versão de "vida perfeita". Podia parecer, mas as aparências enganam muito.
Como disse, não tirei um curso que me fizesse feliz e me fizesse sentir realizada. Conformei-me. Não gosto propriamente do meu trabalho, mas preciso dele. Não posso, sequer, trabalhar noutro sítio qualquer por não pertencer à Ordem da minha amada profissão. E, no que toca à relação de alguns anos, acabou por terminar. Com isto, não me conformei. Estava cansada de me conformar.
Estava, e estou. Há alturas em que me apetece largar tudo e começar de novo. Só para não ter que me conformar com o facto de ter uma profissão que não me diz nada e de viver num sítio ao qual não sinto que pertenço.
Ao mesmo tempo, sinto que fazer isso seria como voltar para trás.
Tenho quase vinte e cinco anos e este é o resumo da minha vida: tirei um curso cuja profissão não é a minha praia, estou a fazer um estágio remunerado e não posso trabalhar antes de pertencer à Ordem, estou solteira e ainda vivo com a minha mãe. E vejo todas as pessoas à minha volta, nomeadamente as da minha idade ou as que lá andam perto, com a vida encaminhada. Tiraram o curso que queriam e não tiveram que passar por mudanças de curso, trabalham, têm uma relação estável que parece irritantemente perfeita, saíram de casa dos pais ou pensam fazê-lo, casaram ou pensam em casar-se.
Por um lado, sinto-me completamente ultrapassada por toda a gente. Mas, por outro...será que todos têm que seguir aquele rumo ridículo imposto pela sociedade? E se eu não quiser? (Não quero, de todo, pois não quero ter filhos) E se eu quiser voltar atrás; e se eu tiver que bater com a cabeça contra a parede várias vezes até descobrir o que quero fazer da vida? E se só o descobrir daqui a uns tempos e isso me obrigar a voltar atrás?
Oh, já sei. Vão falar. Vão criticar. Vão mandar boquinhas. Porque não cresço. Porque não sei o que quero. Porque, com a minha idade, devia estar a fazer isto e aquilo, e não aquela outra coisa. É ridículo, mas é o que acontece.
Com tudo isto, chega-se à conclusão - chegaram por mim, melhor dizendo - que andei a viver em função dos outros. A fazer as coisas por causa da opinião dos outros, por causa daquilo que iriam pensar. Quando a vida é minha e quando, supostamente, devia fazer aquilo que quero. Mesmo que não siga o ritmo de toda a gente e mesmo que demore a chegar ao "patamar" onde todas as pessoas da minha idade se encontram agora. Devia focar-me mais em mim e pensar em mim. O problema é que nem sempre o consigo.
Eu acho que tens de encontrar o equilíbrio entre o que a sociedade espera de ti e a familia e o que tu és e o que tu queres. Sendo que achar o que tu queres é sempre o mais complicado. Mas saber o que não queres já é metade do problema resolvido :P
ResponderEliminarNão podes comprometer a tua sanidade mental de fazer toda a tua vida algo para agradar aos outros.
Não existem relações perfeitas e mesmo quando vivem "felizes para sempre" o sempre acaba por ser a morte de um ou dos dois... não tão cor de rosa assim xD
Falo do meu caso particular, licenciei-me em algo que abomino fazer xD Porque sabia que essa licenciatura me dava estabilidade e emprego em qualquer parte do mundo. E agora no mestrado escolhi algo que gostava e que embora relacionado com o meu curso abre-me portas que sempre gostei. Se é fácil começar carreira por onde quero começar, não é! Mas vou tentar lutar por isso porque não quero exercer o que fiz na minha licenciatura.
Mais vale fazer o nosso caminho e desviar da norma do que andar a forçar-nos a algo só para agradar e acabamos a destruirmos-nos.
A nossa geração vive muito em função dos outros, dos pais, dos tios, dos avós, daqueles que não queremos desiludir, mas que teimam em achar que sabem tudo e aquilo que (temos que querer) queremos. Muitos deles não puderam estudar, por isso, acham que o que uma pessoa tem que fazer é estudar muito para ser doutor, começar logo a trabalhar para aproveitar o tempo perdido com estudos, e constituir família logo a seguir, porque, com a nossa idade, já tinham uma penca de filhos e não sei quantas obrigações.
ResponderEliminarTentar mandar na vida dos outros é fácil, mas deixá-los viver a vida como querem e/ou como podem, isso já não. São sempre elas que sabem o que é melhor para os outros, ou outros são uns totós que ainda não aprenderam nada da vida, porque onde se estuda para ser doutor, não se aprende nada de jeito afinal.
Tens que encontrar o teu caminho pelo teu próprio pé. Não é fácil fazer-se que não se vê os dedos apontados, mas tens que ser senhora da tua vida. O que importa é o que pensas e o que queres. Concentra-te em ti, os outros é que não importam =)
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