Tenho acordado cedo. Acordo com o barulho da porta, quando a minha mãe sai para o trabalho. Mas não me queixo; até prefiro que seja assim. Não sou pessoa de gostar de passar a manhã inteira a dormir. Pelo contrário, considero-me uma morning person. Só não gosto muito de estar em casa numa altura em que toda a gente está a trabalhar. Faz com que me sinta um bocado inútil, e é por isso que tento manter-me ocupada. Ocupo-me de simples tarefas do dia-a-dia, para que a minha mãe não tenha que se preocupar com elas quando chegar a casa, tais como lavar a loiça do pequeno-almoço ou varrer a casa de banho. Acho que sentir-me-ia ainda mais inútil se não ajudasse com o mínimo em casa. Um dia destes, talvez faça o jantar antes de ela chegar a casa, para também não ter que se preocupar. Tenho almoçado sozinha, e aí aproveito para pôr um dos álbuns da minha biblioteca musical a tocar alto e bom som, que é algo que já sentia falta há algum tempo. Faz-me alguma companhia e dá-me outro ânimo, embora tenha dias em que só me apetece deitar-me na cama e ouvir o dito álbum bem alto até me fartar, sem fazer mais nada. Tenho várias coisas com que me distrair, apesar de tudo. Isto é, quando não estou a tratar de coisas que digam respeito ao estágio que terei que arranjar. Aproveito o facto de estar sozinha em casa para escrever, e ainda tirarei um dia para arranjar contactos de editoras e para escrever um e-mail perfeito, de modo a convencê-las a ler o meu livro. Vou voltar a praticar natação, que é algo que quero muito desde há algum tempo e que agora já o posso fazer, por ter uma piscina mesmo perto de casa e por estar a viver temporariamente sem horários. Foi um desporto que sempre me fez bem e que tenho a certeza de que ajudará a distrair-me. Para além disso, encontrei uma área na nutrição que me desperta imenso interesse. Tenho um livro sobre o assunto para ler, e qual não foi o meu entusiasmo ao saber que, na minha faculdade, vão abrir um curso de cinco sessões acerca do mesmo. Inscrevi-me, e ninguém colocou qualquer entrave em relação a isso. Vou ganhar novos conhecimentos, vou enriquecer o currículo e, ainda, vou distrair-me um pouco e mudar de ambiente. Isto porque o curso vai ser dado na faculdade, o que implicará algumas deslocações ao Porto - olha que chatice...
Não é assim tão mau. Só não quero que alguma vez me atirem à cara que não estou a fazer nada. Na verdade, não posso fazer grande coisa. Tenho coisas com que me distrair, até; não estou propriamente todo o dia deitada no sofá em frente à televisão, que é só a coisa mais inútil que uma pessoa pode fazer, na minha opinião. Vou, pelo contrário, estar a praticar desporto, a ajudar em casa, a fazer algo de útil em relação ao meu futuro e a tentar investir num dos meus hobbies para que dê alguns frutos. Por enquanto. Não quer dizer que vá fazer isso durante toda a minha vida. E é por isso que não devia ficar com a consciência pesada por me sentir de férias quando mais ninguém está de férias e está a fazer algo da sua vida. Não devia ficar com a consciência pesada por me dar ao luxo de descansar de vez em quando, até porque andei a "matar-me" ao longo dos últimos anos para tirar um curso. Agora que o tirei, acho que, realmente, mereço uma pausa. E não devia haver mal nenhum nisso.
Este ano vou poder apreciar o Outono da melhor maneira, a fazer as típicas ronhas no sofá com as mantas, as bebidas quentes e as séries ou os livros enquanto chove lá fora, sem o peso da consciência e das responsabilidades da faculdade. E vou poder viver o Natal como este merece ser vivido, sem o stress dos exames. No fundo, sinto-me bem por já não ser estudante. Parece que a vida se tornou mais despreocupada, pelo menos por enquanto. Só espero que a questão do estágio se resolva. Mas, de qualquer das formas, candidatando-me em Novembro ao programa de estágios que já referi por aqui, só começo a trabalhar em Janeiro. Até lá, continuarei nesta vidinha. Que, no fundo, não é assim tão má. É uma pausa. A meu ver, merecida. E que ninguém me estrague este conceito.