Há dias melhores que outros. Sem dúvida que o que mais me continua a aborrecer são os tempos mortos em que não há nada para se fazer. Quanto mais tempo passo sem fazer nada, pior é o dia. E, pelo contrário, os melhores dias são aqueles em que fico menos tempo parada e em que sinto minimamente útil. Só é pena que isto não aconteça sempre.
Seja como for, independentemente de o dia ser uma correria de um lado para o outro ou de ser um dia para se cortar os pulsos por não haver absolutamente nada a fazer, continuo cansada, com saudades de ter um horário que não seja das nove às quatro todos os dias e sem tempo para nada. Chego a casa e faço as coisas chatas do costume; depois, só quero descansar, mas mal o consigo fazer. Não consigo fazer noitadas a ver episódios, a escrever ou a ler um livro, não só porque começo a ficar com sono muito cedo, mas também porque não me sinto completamente relaxada e à vontade para fazer uma noitada, porque sei que tenho que ir trabalhar e acordar cedo no dia seguinte. E, quando chega a sexta-feira à noite, a única coisa que me apetece é, de facto, ver episódios, já que não consigo ter cabeça para mais nada.
Tenho saudades de ter tempo, mas, mais do que isso, tenho saudades de fazer algo produtivo. Como é que posso lutar pelo sonho de publicar um livro, se nem tenho tempo para isso? E se, mesmo tendo algum tempo, não tenho cabeça para escrever por estar tão cansada devido ao estágio? O estágio integrado num curso em que só entrei "porque sim", para depois vir a ter um emprego e a vidinha orientada. Coisa que, às vezes, me faz perguntar o que andei a fazer durante todo este tempo e como seriam as coisas se eu, aos dezoito anos, tivesse a mentalidade que tenho hoje.
É muito bonito dizer-se que devemos lutar pelos nossos sonhos. Muito bonito, mas completamente utópico. Até as supostas frases de motivação, como esta que coloquei aqui, são utópicas. Nem as noites me servem de alguma coisa; só mesmo para descansar a cabeça. O tempo não rende, talvez porque, aqui, sinto que tenho menos privacidade do que aquela que tinha na cidade académica, para além de sentir sempre aquela obrigação de ter que ajudar a minha mãe em tudo e mais alguma coisa só para não lhe ouvir dizer que ela é que faz tudo sozinha. Com tudo isto, é-me impossível pensar em mais qualquer coisa para além do estágio e das pequenas, chatas e rotineiras coisinhas do dia-a-dia.
The child is grown, the dream is gone, já diziam os Pink Floyd. E parece que é mesmo assim: que crescer é conformar-se com o que se tem, viver-se ao sabor da rotina e aproveitar os tempos livres para descansar, pensar noutras coisas, fazer algo de que se goste. Não se perder tempo a pensar em sonhos, porque a altura de se perseguirem sonhos já se foi - supostamente, esteve-se a persegui-los até agora, ou, então, a deixá-los um pouquinho para trás por serem mais difíceis de se concretizar e por se achar que haveria tempo para isso, depois - e há outras preocupações agora, outras coisas em que se pensar. De facto, não conheço nenhum adulto que, hoje, lute por um sonho. Talvez por já o ter realizado, ou talvez por não ter nenhum. Ou, talvez ainda, por nem sequer pensar nisso. Seja por falta de tempo ou de forças para continuar atrás dele, seja por achar que nem vale a pena ou que já é tarde para isso. Porque já está habituado ao que tem; já se conformou com a vida que leva. E isto é triste. Tão triste.
Infelizmente tenho que concordar contigo. Desde que comecei a trabalhar que o tempo para os meus sonhos acabou quase por completo. Sabes o que acabei por descobrir? Temos que recomeçar a sonhar por baixo. Até recuperarmos as rédeas dos nossos desejos.
ResponderEliminarEntão não sejas como a maioria e continua a sonhar e a lutar por alcançar os teus sonhos. Pode ser díficil, nunca ninguém disse que seria fácil, mas força*
ResponderEliminareu costumo ver as coisas da mesma forma que tu. será que pelo simples facto de nos tornármos adultos temos de abdicar de ter sonhos? serão os sonhos coisas unicamente de crianças? :(
ResponderEliminarTambém sinto assim. Estou também a fazer um estágio e mal tempo tenho para descansar quanto mais para perseguir os meus sonhos.
ResponderEliminarAinda vai demorar um pouco até te habituares a esse novo ritmo. Mas concordo plenamente contigo quanto à questão da falta de privacidade que se tem "na nossa casa de estudante" em comparação com a casa nos nossos pais. Já consigo imaginar-me a voltar para lá de forma definitiva.
ResponderEliminarAinda assim, não concordo totalmente com o "deixar os sonhos para trás". É verdade que se vai tornando cada vez mais difícil concretizar alguns, mas desistir nunca é opção. Posso dizer (acho que já o disse =) ), que quando vim para a universidade há uns 7 anos, tive que guardar os "meus papiros" na gaveta e arrependo-me todos os dias, mas a verdade é que, bem ou mal, teve de ser assim. Agora com o estágio, tenho ainda menos tempo e paciência, por causa do cansaço, da responsabilidade, das noites mal dormidas e da família, que nunca ajuda. Mas não desisti. Às vezes as coisas são mesmo assim por alguma razão. Não desesperes, ainda tens tanto caminho pela frente =)
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