02/06/2015

E depois da licenciatura?

Tenho ouvido esta pergunta demasiadas vezes ultimamente. Muita gente me pergunta para onde vou quando terminar o curso, e a maioria dessas pessoas diz que o melhor que tenho a fazer é pôr-me a andar daqui para fora. Já há muito tempo que digo não querer tirar um mestrado, e esta ideia não mudou. Começara a pôr a hipótese de tirar outro curso; tentar a minha sorte naquele que fora a minha primeira opção aquando da candidatura ao ensino superior, ou outro que me despertasse interesse e que estivesse virado para as artes, uma das minhas grandes paixões. No entanto, agora com o estágio, já me habituei ao facto de chegar a casa e não carregar aquele fardo de ter que estudar. Estou a gostar imenso desta sensação, e pensar em estudar de novo é algo que não me deixa propriamente feliz, uma vez que significaria voltar ao início e deixar de me sentir assim. Tenho, contudo, que fazer outra porcaria de um estágio para poder pertencer à maldita Ordem que resolveram criar há dois ou três anos atrás - mas penso que este, pelo menos, poderá ser remunerado, o que não é mau de todo. Portanto, tendo mesmo que fazer isto e caso mude de ideias em relação ao mestrado ou a tirar outro curso, a verdade é que não vou começar a trabalhar tão cedo. É por isso que não gosto deste tipo de perguntas, disto de o que fazer ou para onde ir depois do curso. Nunca gostei de fazer planos a longo prazo, mas talvez tenha sido por isso que nunca tenha tomado decisões lá muito boas. Como tal, não é de admirar que não tenha qualquer plano.
Como disse, muita gente me diz para sair daqui, e até já me disseram que, se fossem a mim, iriam para os Estados Unidos, já que tenho a dupla nacionalidade; mas este nunca foi um destino que me fascinasse, para além de que o meu pai já lá viveu e diz que a vida lá não é pêra doce, embora as coisas possam já estar um bocadinho diferentes. Durante os semestres de aulas, os meus colegas pareciam partir do princípio que eu ia voltar para a ilha, quando, secretamente, eu só desejava poder ficar ali, em Portugal continental, por mais tempo. A ideia de voltar, começar a trabalhar e fixar-me lá, no lugar onde nasci, chegou a ser impensável em algumas alturas. Ter saído de casa para ir estudar para o Porto foi das melhores experiências que já tive, e regressar às origens significava perder tudo aquilo que a parte continental era capaz de oferecer. É que, apesar de ser o mesmo país, as diferenças entre o continente e as ilhas conseguem ser abismais.
No entanto, não deixo de reconhecer a qualidade de vida que se tem aqui na ilha. Algumas pessoas também mo têm dito. Gosto que os lugares sejam todos bem mais próximos uns dos outros, que não se percam horas em transportes, que não existam filas de trânsito intermináveis, que o mar esteja tão próximo, que possa olhar para ele e refrescar-me nele sempre que quiser, ao invés de apenas meia dúzia de vezes num ano inteiro - e sem gelar os ossos -, que tenhamos a melhor carne do mundo e outras quantas iguarias fantásticas, que a vida seja levada de uma forma mais calma, enfim. Mas detesto o clima totalmente incerto, assim como o facto de estarmos demasiado limitados. De pouco ou nada acontecer, de não termos grandes eventos, de não existirem lugares próximos que me sejam desconhecidos e onde poderia dar um saltinho para quebrar a rotina de vez em quando. Estas coisas só existem na parte continental, e eram o que fazia com que gostasse tanto desta parte. Agora, temos as companhias aéreas low-cost, que me permitiriam usufruir do melhor dos dois mundos com maior regularidade, mas também não deixa de ser aborrecido - para além de dispendioso - andar frequentemente de avião para poder sair daqui - para mim, andar de avião é aborrecido, ponto.
Todavia, mesmo pensando em tudo isto, nem sei onde arranjaria emprego. Costumava pensar que seria mais fácil encontrá-lo aqui, já que se contam pelos dedos as pessoas das ilhas que saem da minha faculdade, o que significa que a grande maioria dos licenciados fica pelo continente - ou vai-se embora. Mas, agora, já nem sei.
Em relação ao estrangeiro, confesso que não tenho uma opinião formada. Mas penso que seria a minha última opção; só mesmo em último recurso, caso me fizessem uma oferta de emprego fantástica e eu não conseguisse encontrar mais nada em lado nenhum. Não é algo que me assuste assim tanto, uma vez que já vivi longe de casa e dos que me são queridos, já tive que lidar com a saudade e com a solidão e tudo isso. Acho que, se tal acontecesse, seria apenas mais uma grande mudança, como quando fui para a faculdade: apenas um novo lugar com diferenças abismais em relação à minha terra natal.
A questão é que, quanto mais me perguntam e quanto mais me dizem, pior, pois cada um puxa para o seu lado, para o seu tipo de vida ideal e para o seu destino ideal. Seria tão mais fácil se houvesse um lugar perfeito, que combinasse ambas as coisas: a qualidade de vida que aqui temos e os aspectos positivos que existem "lá fora".

5 comentários:

  1. Qual foi o curso que quiseste primeiro? Algo relacionado com artes? :)
    Realmente a tua situação é complicada e percebo perfeitamente as tuas dúvidas. Eu sou totalmente apologista de viver num sítio sossegado, calmo, com muita natureza por perto mas percebo que andar sempre de avião é chato e provavelmente não têm horários muito agradáveis.

    Eu vivi muitos anos no interior e, apesar de termos tudo longe, tudo o precisavamos para viver bem estava perto. E juro-te, se tivesse emprego lá, mudava-me num piscar de olhos. Tenho a certeza que sentiria falta do Porto, porque sou apaixonada pela cidade, mas o stress de viver numa cidade é imenso. Mas tem todas as vantagens que enumeraste e contra isso não há argumentos.
    Eu também queria tirar outro curso. Mas para isso tenho de trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Estou a fazer isso há 2 anos e não gosto da sensação de não ter tempo para nada. Não sei se terei coragem para o tirar.

    Acredito que irás saber o que é melhor para ti quando for altura. Eu soube, bem lá fundo, por isso também irás saber. E eu sou uma indecisa do pior! :) Boa sorte, Ice, se precisares de falar eu estou aqui *

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  2. O último parágrafo diz tudo. Fazem-me constantemente isso. Era quando acabei a licenciatura há um ano e é agora. Agora sempre que falam comigo é «já arranjaste emprego» e lá tenho eu de passar pela vergonha de dizer outra vez que não :s

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  3. Como alguém que já viveu la fora, posso dizer-te que é uma escolha difícil. Acaba por ser melhores condições vs coração. Mas estas la fora enquanto o coração esta cá e não sossega, é difícil. Para já escolhi ficar por cá, onde estou à vontade, mas ainda estou a estudar também, voltei para a universidade. No teu caso, no fim da licenciatura, é diferente. E é sempre diferente porque depende da pessoa e das circunstâncias, o que nunca é fácil. Tens de pensar muito bem no que queres, e experimentar, porque só assim saberás.
    Espero que faças uma boa escolha, uma escolha que te deixe feliz. Se não deixar, nada é irreversível. Se há uma coisa que descobri, é que quando há força de vontade, o resto acontece.

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  4. As pessoas fazem perguntas como se nós tivéssemos resposta para tudo quando é assim.. Uma pessoa não sabe como vai estar daqui a um ano quanto mais daqui a 3... Só o tempo o dirá :)

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  5. O que decidires é o que é bom para ti. Muito gostam as pessoas de opinar sem ninguém perguntar --'

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